Como economizar: crie o seu Fundo de Reserva pessoal

Fundo de Reserva é um montante mantido à parte, sempre disponível para cobrir despesas extraordinárias, emergenciais ou imprevisíveis. Toda pessoa ou família pode ter um fundo de reserva, mas para formá-lo é necessário aplicar mensalmente uma parcela do orçamento, e fixar critérios no que diz respeito ao seu uso e manutenção.

Ter um Fundo de Reserva, ou Fundo de Emergência, seja ele pessoal ou familiar, é uma providência relativamente cara (tanto no sentido financeiro quanto no econômico), mas cujo valor aparece claramente não apenas nas emergências: dispor de reservas prontamente acessíveis acrescenta muita tranquilidade e facilita decisões que seriam muito mais sofridas se você estivesse, como tantas pessoas, sempre a não mais do que um contracheque de distância da ausência de opções.

Em especial, ao estudar ética no trabalho e as questões relacionadas ao assédio moral, percebe-se que a presença de um fundo de reserva aumenta a chance de o funcionário recusar-se a ser co-partícipe destes comportamentos, pois pode encarar melhor a possibilidade de a opção pela ética acabar prejudicando a sua continuidade na posição atual.

Em um artigo anterior sobre a preparação para o recrudescimento da situação do mercado de trabalho nesta crise global que atravessamos ("Segurando seu emprego, ao mesmo tempo em que se prepara para o caso de ser demitido"), a questão dos fundos de reserva também foi abordada, pois é óbvia a relação entre as duas questões.

Mas, em meio à crise, será que é a hora certa de começar um Fundo de Reserva?

Não, na verdade a hora certa seria antes da crise, se você soubesse que ela viria. Mas deixar de iniciar uma medida preventiva só porque já estamos em uma crise é um argumento que se sustentaria bem melhor se soubéssemos que já chegamos ao fundo do poço - e raramente é o caso.

Não sabemos se a crise atual vai se agravar, nem quanto tempo vai durar. Não sabemos quanto tempo após seu término chegará a próxima. Medidas preventivas são difíceis a qualquer tempo, e só são efetivamente apreciadas na hora de fazer uso delas.

Começando o seu Fundo de Reserva

Manter um fundo de reserva é relativamente simples, mas começá-lo envolve decisões complicadas - tanto no aspecto motivacional, quanto no da efetiva implementação.

Em especial, é necessário antes saber diferenciar o que é consumo, o que é investimento e o que é um efetivo Fundo de Reserva. A idéia essencial de um Fundo de Reserva é que ele esteja disponível para uso imediato, e por isso precisa ser mantido em alguma aplicação com alta liquidez e baixo risco, o que geralmente conduz também ao baixo rendimento. Ter um imóvel, outro bem ou qualquer investimento que não possa ser convertido em dinheiro rapidamente não constituem bons fundos de reserva, embora possam ser opções de investimento.

Por outro lado, possuir o imóvel onde se mora, um carro ou outro bem que esteja em uso em geral se classifica muito mais como consumo do que como investimento (embora dê alguma segurança), e fica longe de ser um Fundo de Reserva, a não ser que seu uso seja completamente supérfluo (e você possa abrir mão de um dia para outro), e a liquidez dele no mercado seja alta e permanente - o que é raro, especialmente em crises.

Mas guardar moeda corrente em casa (alternativa de altíssima liquidez) geralmente é inseguro e obriga a abrir mão até mesmo das baixas taxas de remuneração que as instituições oferecem a quem quer guardar dinheiro mantendo a liquidez. Portanto, após decidir implantar o fundo, a sua primeira decisão importante deve ser onde guardá-lo, equilibrando o interesse em segurança, em manter a atualização monetária, e em liquidez. Para um exemplo: Fundos de Reserva de condomínios usualmente são aplicados em cadernetas de poupança e similares de instituições consideradas sólidas, abrindo mão de rendimentos superiores em prol da segurança e disponibilidade imediata.

A segunda decisão importante é a definição de quanto se deseja vir a ter no Fundo de Reserva, quando ele estiver completo. Devido ao aspecto motivacional, o ideal é definir um plano escalonado, com uma meta para 6 meses, outra para 1 ano, e outra para o final do segundo ano, por exemplo. As metas devem considerar a sua capacidade de gerar poupança, seja pela ampliação da receita pessoal (geralmente mais difícil), pela redução de despesas (menos difícil) ou pelo redirecionamento do que seria aplicado em outros investimentos (mais fácil).

Um possível plano de metas pode ser: em 6 meses ter o suficiente para pagar um mês de suas despesas integrais, ao final do ano ter o equivalente a um mês e meio de seus rendimentos integrais reais, e ao final do segundo ano ter capacidade de quitar todos os seus débitos (aluguéis, prestações, financiamentos, mensalidades, etc.) pendentes por 2 meses, e ainda ficar com um saldo disponível equivalente a 2 meses de rendimentos integrais e livres - o que daria um bom fundo de reserva para manter abertas suas opções após emergências. A literatura especializada usualmente define como valor final um total equivalente a 6 a 8 meses de seu rendimento mensal, mas sinta-se livre para considerar se após 2 ou 3 meses você não terá condições de tornar líquidos outros investimentos de maior rentabilidade em que poderá empregar estes recursos adicionais.

E note que as medidas podem ser tomada simultaneamente em 2 sentidos: ao mesmo tempo em que se amplia a poupança, pode-se buscar reduzir conscientemente o número de compras parceladas e financiamentos que se inicia, por exemplo.

E aí chegamos à terceira decisão importante, potencialmente a que tem maior impacto sobre a motivação, e a que envolve mais disciplina: quanto poupar por mês. Só você pode avaliar do que abrir mão, quanto desviar de outras aplicações, ou se é possível ampliar a renda mensal. O valor escolhido deve corresponder ao plano de metas, naturalmente.

Considerando a disciplina e a motivação, caso a fonte do fundo de reserva seja a redução de despesas supérfluas, pode fazer sentido realizar os depósitos semanalmente, em quantias menores, mesmo que os seus rendimentos sejam mensais. Você verá o bolo crescer, e cada depósito individual vai doer menos no bolso. Se você tiver problemas de disciplina, muitos bancos oferecem planos de transferência automática mensal para uma série de planos de capitalização (que em geral não são ótimos investimentos), e aí a mordida será automatizada: todo mês, após o salário pingar lá no fundo da conta corrente, uma parcela vai para a reserva. Mas faça com que esta conta de destino seja exclusiva para o fundo de reserva - misturar todos os fundos em um saldo comum não é bom para a disciplina, e nem para a motivação.

Depois de decidido, coloque em prática!

Nenhum plano vale nada se não for colocado em prática e mantido. Se você decidir, faça os sacrifícios necessários e busque constantemente as metas definidas. Ao final do prazo, você terá alcançado o valor desejado e, o que é melhor, poderá ter desenvolvido uma rotina de poupança que poderá ser canalizada a outros investimentos mais rentáveis, ou à aquisição de bens que sejam de seu interesse.

Em especial, saiba também quando chega a hora do movimento contrário: o fundo de reserva está lá para emergências, e não necessariamente apenas para algum momento em que você se veja privado de suas fontes de receita. Uma manutenção inesperada (e emergencial) no carro ou na casa podem ser bons motivos para fazer uso dele - o que deve também colocar em operação um novo plano de metas para recompô-lo.

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