Vale a pena fazer concurso público para uma cidade distante?

Convivo diariamente com pessoas que fizeram concursos públicos para locais distantes de suas origens, abrindo mão das suas raízes familiares e do conforto de morar em local conhecido, em prol de vantagens como a estabilidade no emprego ou o salário mais elevado do que conseguiria obter na iniciativa privada local.

Em muitos casos a situação é amplificada pelo fato de o concurso ser nacional, com pouco controle (por parte do candidato) até mesmo do estado em que será lotado, caso aprovado.

Para muitas pessoas, as vantagens compensam a distância e o possível desconforto causado pela diferença de costumes ou até mesmo de desenvolvimento regional. Outras têm facilidade de se adaptar e gostam da mudança, ou têm a felicidade de acabar indo atuar em um local que seria de sua preferência, mesmo em outras circunstâncias.

Mas há os casos de exceção: aquelas que acabam embarcando em um mundo de frustrações e insatisfação por estarem num local em que não desejariam, muitas vezes realizando atividades muito diferentes daquelas que sonharam, ou se prepararam, ou teriam potencial.

Para estas, um vencimento inicial de R$ 8.000,00 no contracheque não compensa itens como:

  • a distância da família,
  • a distância e ausência de contato com seus superiores hierárquicos e com a cadeia de decisões de seu órgão,
  • a impossibilidade de encontrar no mercado local itens comuns, como um iogurte ou a sua fruta predileta,
  • a impossibilidade de encontrar moradia no padrão desejado,
  • a necessidade de interromper o ciclo normal de seu desenvolvimento acadêmico,
  • a chegada das revistas semanais com 6 dias de atraso,
  • a Internet discada,
  • a distância de horas, por transporte incerto, até o centro de saúde mais próximo.

Claro que há infinitos motivos e níveis de gradação entre as extremidades da escala de satisfação. Pessoas que se motivam pela acolhida que recebem da população local. Pessoas que sentem saudade do litoral, ou da serra, ou do frio, ou do calor. Pessoas que não têm condições de levar a família consigo, por qualquer razão. Pessoas que descobrem novos interesses em sua carreira. Pessoas que encontram condições de trabalho que, ao invés de desafiar pela dificuldade, desmotivam pela impossibilidade. E muito mais.

Felizmente muitas pessoas conseguem se motivar e atuar em todas as condições acima, encontram sempre o lado positivo e ainda constróem uma vida produtiva e criativa para si e para os seus, mesmo quando o contracheque parece não compensar as circunstâncias.

Minha experiência pessoal neste sentido é muito positiva, embora nada extrema: passei em um concurso público federal (para pesquisa e desenvolvimento em telecomunicações) ainda na década de 1990, o que me levou a mudar de cidade (algo a que resisti muito) e acabou mudando minha vida e carreira de muitas maneiras - até mesmo me levando a buscar a graduação em Administração, e não na área de TI, como seria o desenvolvimento natural se as coisas tivessem mantido seu rumo original. Não fiquei muito tempo no emprego para o qual passei naquele concurso, mas quando saí de lá, minha vida já era outra.

E é deste tipo de experiências e expectativas positivas que o artigo "Mudar de cidade por estabilidade e salário vale a pena, dizem aprovados", publicado recentemente pelo G1, trata.

Nestes tempos bicudos em que aumenta a valorização da expectativa de estabilidade trazida pelos concursos públicos, este tipo de consideração pode ser muito interessante, ainda mais quando se considera que na maioria dos casos, as principais possibilidades de remoção ou transferência só podem surgir após completar o segundo (ou o terceiro) ano em sua lotação inicial.

Separei um trecho que, embora não seja brilhante na expressão de sua opinião generalizada sobre a temperatura e praias da região Sul, é bem ilustrativo:

Para Fábio Gonçalves, diretor executivo do curso preparatório Academia do Concurso, antes de mais nada o candidato deve questionar se a remuneração vale a pena.

“Muitas pessoas moram com a família ou em casa própria e têm vários benefícios na cidade de origem. Quando passam em um concurso e vão para a outra cidade, percebem que, com os novos gastos, terão um poder aquisitivo menor. Por isso, é muito importante fazer as contas, Às vezes, vale mais a pena continuar se preparando para um concurso mais próximo”, diz.

Ele afirma ainda que mesmo se a remuneração valer a pena é importante ter certeza de que vai conseguir viver bem longe da família e dos amigos.

“Se for um concurso com várias opções de localidade, é melhor escolher uma localidade que o candidato goste. Se ele gosta de praia e sol e não se adapta ao frio, não seria uma boa opção concorrer a cidades do Sul do país, por exemplo”.

Ele recomenda a quem está disposto a exercer o cargo público longe de casa que opte para concursos da área fiscal para nível superior e para os de tribunal para nível médio devido às altas remunerações.

Leia também: Concurso: 12 dicas testadas e aprovadas para passar.

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