Como pedir desculpas com efetividade

Não existe fórmula mágica para reparar o impacto de qualquer dano ou mágoa que você possa causar mas, quando existe um caminho para uma solução, geralmente ele passa por um bom pedido de desculpas, no qual você reconhecerá qual o seu ato que causou o problema, que se arrepende por ele e que gostaria de repará-lo.

Só que, embora os pedidos de desculpas possam ser o caminho mais direto entre a ofensa e o perdão, eles também podem ser bem complicados de executar. Não procure por mensagens de desculpas ou fórmulas prontas: os componentes essenciais são o reconhecimento do erro e a disposição genuína de apresentar este reconhecimento à pessoa prejudicada.

Todo mundo comete erros. E nem todos eles podem ser consertados, mesmo quando são entendidos e reconhecidos. Pedir desculpas, entretanto, quase sempre está ao alcance, mas bastante gente erra na hora de colocar esta idéia, aparentemente tão simples, em prática.

Comunicar claramente o que se pensa e sente é um talento que precisa ser desenvolvido, mas algumas necessidades de comunicação do dia-a-dia das nossas vidas (profissionais, acadêmicas, familiares, afetivas, etc.) são tão comuns, que é possível se preparar para elas de maneira bastante específica.

A situação dos pedidos de desculpas é mais uma que pode ser tratada desta forma. E aqui é necessário fazer uma distinção importante: pedir desculpas não é a mesma coisa que dar as famosas "desculpas" para se justificar. Estas últimas servem para que você não ser levado a sério, enquanto as primeiras podem fazer muito a favor de sua reputação e imagem.

 

Não há técnica nenhuma que faça você arrepender-se genuinamente, nem que garanta que irá receber o perdão, ou mesmo que chegará a ser ouvido pela pessoa de quem deseja este benefício, mas se você conseguir reunir estas condições, a técnica poderá ser bem empregada e levar a melhores resultados.

Entendendo como é o jeito errado, para evitá-lo

Antes de explicar os passos que conduzem a um bom pedido de desculpas, vou usar o recurso didático de apresentar alguns dos elementos centrais mais comuns de um pedido de desculpas que não funciona.

 

Um pedido de desculpas que não funciona reune vários dos seguintes ingredientes:

  1. é apresentado mesmo quando a pessoa não está pronta para ouvir
  2. é feito em público ou por intermediários, e não diretamente à pessoa atingida ou ofendida
  3. só surge depois que o erro cometido se torna público e "pega mal"
  4. é apresentado na condicional ("desculpe se por acaso exagerei")
  5. generaliza para não mencionar o que se fez de errado ("desculpe ter causado incômodo")
  6. diz que o erro foi de interpretação de quem se ofendeu ("desculpe se alguém entendeu erroneamente que a minha piadinha do trem era preconceituosa")
  7. não gera o entendimento de que há arrependimento e haverá um esforço para corrigir, compensar ou evitar repetições do mesmo erro
  8. é seguido de novas ofensas caso as desculpas não sejam integral e imediatamente aceitas

É fácil exemplificar alguns destes itens. Muitas vezes acontece de o ofensor mencionar seu arrependimento somente a uma terceira pessoa, esperando que ela vá contar ao ofendido ou, pior ainda, querendo evitar que esta terceira pessoa fique com má impressão sobre o ofensor, que não está nem aí pra opinião do ofendido.

É como quando uma pessoa pública que ofende uma comunidade inteira e, ao ver que pegou mal, não se dirige a ela para se desculpar, mas sim procura os jornais e revistas que o público dela (e não a tal comunidade) lê, para "pedir desculpas" publicamente, também.

Os itens 4 e 5 também são tristemente comuns - são o tipo de pedido de desculpas que na verdade ampliam e aprofundam a ofensa original. É como se a pessoa estivesse, ao invés de pedir desculpas, chamando o interlocutor de burro por não entender o que se quis dizer, ou dizendo que na verdade não houve ofensa, mas SE a pessoa quiser achar que houve, recebe as desculpas por esta ofensa imaginária.

O item 6 é o mais inefetivo de todos, porque caracteriza as famosas "desculpas vazias". A pessoa está fazendo um gesto por educação ou por sentir-se obrigado, mas nada vai mudar.

Como pedir desculpas do jeito certo

Um bom pedido de desculpas tem muitos ingredientes, mas os mais essenciais entre eles são o genuíno reconhecimento de que se fez algo indevido, e o sincero desejo de apresentar este reconhecimento à pessoa ofendida ou prejudicada pelo erro.

 

Quando estes 2 ingredientes estão presentes, até mesmo um pedido de desculpas mal executado tem chances de ser aceito.

E o oposto também é muito verdadeiro: se houver suspeita da ausência deles, a chance de o pedido de desculpas ser aceito com sinceridade passa a ser bastante reduzida.

Portanto, depois de verificar que você reune os 2 ingredientes acima, prossiga com a minha versão adaptada do procedimento proposto pelo Wikihow:

1 - análise pessoal: em sua própria reflexão, identifique claramente qual foi a ação errada, quem foi a vítima e de que forma ela foi prejudicada. Para depois poder pedir desculpas corretamente, você tem que aceitar em sua mente que houve um erro de sua responsabilidade, e que este erro ofendeu ou causou prejuízo a outra pessoa ou pessoas.

Porcure identificar claramente estes elementos, para poder se referir a eles de forma objetiva na hora de pedir desculpas.

 

2 - aceite a responsabilidade por este erro e ofensa. Já ouvi o ditado "nunca peça desculpas por algo fora do seu controle", e concordo com ele - se você vai pedir desculpas genuínas, deve ter reconhecido que o ato pelo qual está se desculpando era de sua responsabilidade.

Em especial, não acrescente junto ao seu pedido as "explicações" que não comovem ninguém e tentam minorar a sua responsabilidade sobre o erro. Em especial, não diga:

  • "são as normas da casa",
  • "foi problema com o entregador/garçom/atendente/funcionário",
  • "foi orientação superior, eu era contra",
  • "eu estava bêbado", etc.

Pois podem até ser explicações verdadeiras, mas não cabem no seu pedido de desculpas - ou você aceita toda a responsabilidade por ter causado ou não ter agido para evitar a situação, ou apresentará desculpas parciais que só irritam e até agravam a ofensa.

3 - escolha momento e local adequados. Você precisará de tempo, pois um bom pedido de desculpas é muito mais um diálogo do que um discurso. Pense na oportunidade ideal, e tome providências para conseguir que ela aconteça, evitando embaraços e constrangimentos desnecessários.

Oportunidades comuns são após uma reunião, em um convite para almoço, em uma conversa de corredor, etc. Às vezes temos a felicidade de pedir desculpas imediatamente após cometer o erro (e aí tudo fica mais simples), mas nem sempre é o caso, e nem sempre é melhor, dadas as emoções envolvidas. Mas esperar demais também não é bom.

 

4 - apresente o seu pedido de desculpas, que idealmente não deve ser um longo discurso, e precisará ser dito de forma espontânea, mas deve incluir componentes como estes (possivelmente nesta mesma ordem):

a) O reconhecimento de qual foi o erro, e qual o prejuízo causado ("Desculpe por eu ter amassado a lataria do carro e guardado na garagem sem te contar", "Desculpe por eu ter contado ao Fulano qual era o preço máximo que você pretendia oferecer, e assim ter arruinado a compra da casa", ...) 

Este é o ponto em que você precisa ter cuidado com os erros comuns que mencionamos no início do texto: caso a sua frase tenha um "se" ou um "mas", ou você estiver se desculpando por como a pessoa se sentiu, e não pelo que você fez, cuidado!

Cuidado também com sutilezas e insinuações - elas têm seu lugar na comunicação, mas este lugar raramente inclui os bons pedidos de desculpas.

b) A proposta de fazer algo concreto para compensar o dano causado, ou para evitar que a situação se repita. Aqui também não deve haver nada no condicional - não diga "se você me perdoar e continuar emprestando o carro nos sábados, eu prometo nunca mais dirigir acima do limite de velocidade". A proposta deve ser em termos absolutos.

c) A reafirmação do valor que a pessoa ofendida tem para você (caso tenha)

d) O pedido de que ela o desculpe, perdoe, dê nova oportunidade para compensar ou para reiniciar o processo sem voltar a cometer o mesmo ato.

Assim como na web, em um bom pedido de desculpas o conteúdo é o rei. Fazê-lo acompanhado de poemas, olhar triste, um cartão, presente, um jantar, flores, vantagens e firulas, mas sem um reconhecimento sincero, pouco adianta para o objetivo intrínseco.

5 - Seja paciente. Você pode ser desculpado na hora, mas também existe a possibilidade de a pessoa ainda não esteja pronta para lhe desculpar, perdoar e esquecer.

Se acontecer este segundo caso, esteja preparado para simplesmente encerrar o seu pedido, reforçar que espera que no futuro isso possa ser revisto, e se retirar. Se acontecer o primeiro caso, aja normalmente, sem forçar a pessoa a situações para "testar" se ela realmente o perdoou.

6 - Mantenha sua palavra. Se você se disse arrependido, fez uma proposta de mudança, ela foi aceita, e você não a cumprir, chegará o momento em que o resultado será bem diferente...

Contrastando com o método John Wayne

Em um western de 1949, o personagem interpretado por John Wayne disse uma frase emblemática, que traduzo livremente: "nunca se explique e nunca peça desculpas - são sinais de fraqueza".

 

Há pessoas (e corporações) que levam suas vidas com base nesta filosofia. Na vida profissional, já tive oportunidade de encontrar dois superiores que conheciam a frase e a citavam como política de relações públicas e marketing pessoal.

Com um suprimento inesgotável de impulso próprio e capacidade de ignorar os feedbacks e solicitações recebidos, até acredito que seria possível levar uma vida aparentemente feliz e saudável adotando este lema. Mas estes suprimentos inesgotáveis não são tão fáceis de encontrar.

Eu não compartilho da idéia, nem a recomendo. Mas resolvi mencioná-la aqui porque ela pode servir de contrapeso importante ao que foi dito acima, na hora de lembrar que também não é ideal passar a vida se explicando e se desculpando.

No artigo "Evite acidentes, faça de propósito!", já tratamos do tema: o ideal é ter consciência das atitudes que se deseja tomar, e estar preparado para as suas consequências.

Reproduzo um parágrafo de lá:

Fica, portanto a dica: se sua vida está em algum compasso de espera e você não está gostando, talvez você esteja precisando fazer algumas escolhas, tomar algumas decisões e correr para viabilizá-las – antes que o destino decida, possivelmente contra você. Faça de propósito, não espere pelo acidente!

Mas quando fizer, não se desculpe: foi sua escolha, e você não deveria estar arrependido dela ;-)

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