Equipe desmotivada: superando o desafio

Na semana passada eu vivi uma experiência rara: uma equipe formada com pessoas oriundas de diversas organizações, reunida para passar 2 dias discutindo elementos inerentemente chatos (embora importantíssimos) referentes a um projeto conjunto conseguiu se manter motivada durante todo o período.

Um sintoma da motivação, para vocês avaliarem: quando acabaram as horas alocadas para a atividade no primeiro dia, e mesmo estando rigorosamente dentro do cronograma, houve uma decisão espontânea, não induzida pelo líder, para prorrogar a atividade por mais uma hora - e esta hora adicional cuidou não de adiantar a programação do segundo dia, mas sim para refinar o que já tinha sido aprovado no primeiro.

Mas meras evidências não bastam, é preciso também comprovar a eficácia, e neste sentido também ocorreu algo que deveria ser a regra, mas nem sempre se vê: a agenda da reunião foi integralmente cumprida, e os objetivos propostos (internos à atuação do grupo) foram todos alcançados.

Estando lá para testemunhar, posso informar que boas práticas para reuniões produtivas foram seguidas, o que torna tudo mais fácil. Mas sem uma matéria-prima essencial - que é a equipe capaz de agir de forma motivada e com comprometimento, o desafio teria sido bem maior.

Mas para cada pessoa motivada a continuar correndo mesmo nas condições mais inóspitas, há um universo de pessoas que não conseguem nem levantar da cadeira por falta de motivação.

E foi essa experiência na reunião que me lembrou de trazer a vocês novamente um post de um autor convidado, o Felipe Suzin, que em 2007 nos brindou com um artigo curto e direto que trabalha exatamente desta situação oposta: o desafio de lidar com uma equipe desinteressada.

Infelizmente o integrante desinteressado ou permanentemente desmotivado é um desafio comum nas organizações voluntárias e sem fins lucrativos, mas também está presente nas empresas, na sala de aula e até no seu grupo de estudos. Como lidar com ele sem removê-lo da equação?

Seria tudo mais fácil se você pudesse clicar com o botão direito na sua equipe, selecionar a opção "Incrementar motivação", e pronto. Mas a motivação é um processo, não um evento isolado. É conseqüência, e não causa. A sua ausência pode vir de problemas conjunturais, estruturais, de infra-estrutura, de processos, e até mesmo de liderança em si.

Algumas razões comuns para a perda da motivação do membro da equipe são a falta de reconhecimento, de conhecimento dos objetivos da atividade que realiza, de uma perspectiva de progressão no futuro, os processos mal estruturados, a inadequação das métricas às características da equipe, e a inépcia dos superiores hierárquicos.

E foi na prevenção deste último fator - nos casos em que o superior hierárquico reune o interesse e as condições - que o leitor Felipe Suzin se concentrou ao elaborar seu breve artigo, que publico abaixo. Obrigado, Felipe!
 

O desafio de liderar equipes com pessoas desinteressadas
por Felipe Suzin

"Li em um comentário de artigo anterior a solicitação de um leitor que queria um texto sobre a questão da liderança quando há pessoas desinteressadas na equipe. Como é área do meu interesse e uma das minhas principais atribuições profissionais, escrevi um pequeno artigo a respeito.

Desinteressados, mais do que simplesmente obstáculos funcionais, são muitas vezes uma criação da própria organização, por intermédio de políticas equivocadas de gestão de pessoas, pressão por metas elevadas sem o correspondente incentivo, ausência de planos de carreira, etc. Estes fatores ajudam a criar um verdadeiro batalhão de problemas que um pouco de planejamento poderia evitar.

Como a maior parte destes problemas pertencem à esfera estratégica da empresa, foquei no trato direto com a equipe, que está mais ao alcance do gestor de nível médio da organização. Mas não esqueça: na próxima reunião com a diretoria, puxe os temas acima citados para a mesa de discussões.

Liderando a equipe: Para liderar com efetividade uma equipe assim, a ferramenta mais útil é o diálogo. Esta é uma ferramenta tão poderosa, que pode promover verdadeiros milagres comportamentais no seu negócio. Mais eficiente que punições, demissões, e o envolvimento emocional das “chamada aos brios”.

  • A raiz do problema. Procure descobrir junto do funcionário qual a sua motivação para o desinteresse. Sim, até para não fazer nada devemos estar motivados de alguma maneira. As causas podem ser as mais diversas, mas ouvi-las e compreendê-las é um passo enorme na resolução do problema. O truque aqui é saber realmente ouvir e refletir, e não se limitar a escutar e depois fazer um discurso motivacional.
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  • Agir sobre as causas. Uma vez descobertas as causas, procure saná-las. Lembra das qualidades do líder? Uma delas é remover obstáculos para a equipe. Existem desde a teoria das necessidades de Maslow até a de Extratos de Elliott Jacques para explicar a motivação das pessoas, mas o básico pode ser saber que a forma mais fácil de diagnosticar é observando com atenção e dialogando francamente.
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  • Diga a verdade. Não adianta dourar a pílula se o desinteresse do seu subordinado esta atrapalhando o desempenho da equipe ou até mesmo o andamento do trabalho. Diga isto a ele com todas as letras, mas em uma conversa reservada. Nem sempre ele reagirá de forma negativa, desde que você o faça com respeito à sensibilidade de cada um. Você aumenta a chance de não ter problemas com isto se seguiu corretamente o primeiro passo.
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  • Comunique bem os objetivos. Reveja a comunicação de seus objetivos. Muitas vezes o desinteresse é resultado direto da falta de comunicação clara dos objetivos da empresa ou da equipe. Em muitos casos, além dos objetivos não estarem claros, os incentivos também não estão, ou seja, os desinteressados não fazem além do mínimo necessário porque não percebem a razão de fazer mais, e nem o incentivo para que o façam, as duas chaves para o interesse.
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  • Inspire a equipe. Ouça a si mesmo. Perceba o que faz com que você esteja interessado. Falar com as pessoas armado de um interesse sincero muitas vezes faz com que elas partilhem da sua motivação. Um líder muitas vezes tem um pouco desta característica inspiradora que genuinamente move os outros a segui-lo, principalmente quando eles percebem que dividindo o sacrifício com você, também partilharão da vitória no final.

 

Dirigentes preocupados exclusivamente com o curto prazo recorrem a instrumentos adicionais, como oferecer premiações fantásticas, estimular a competição dentro da equipe, ou simplesmente ameaçar com demissões ou perda de benefícios.

Nada garante que estas soluções comuns e imediatas não sejam mais eficientes em sua organização a curto prazo, mas elas não motivam de verdade, apenas empurram o problema para a frente."

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