Como escolher a fila certa no supermercado

Depois que o carrinho está cheio de itens bem escolhidos (sem deixar o supermercado nos enganar com suas armadilhas!), normalmente ainda restam 3 passos potencialmente chatos: aguardar na fila para sair, levar as compras até em casa, e desempacotá-las.

Para todos eles há maneiras de aumentar a eficiência (ou simplesmente diminuir a chatice), mas hoje o nosso tema irá se concentrar no primeiro: a fila.

Comecemos pelo aspecto da natureza da chatice envolvida: além da insatisfação de, após já ter passado por todas as escolhas de produtos, ser obrigado a aguardar para poder consumar a compra e a despesa, temos que lidar com o fator tédio.

Os fatores que agravam a chatice da espera em uma fila costumam incluir o tédio que ela provoca, a incapacidade de perceber que ela está andando, a incerteza sobre se ela vai continuar andando num bom ritmo até chegar a nossa vez, e a dúvida sobre ter pego a fila mais rápida ou não.

Despachando o tédio

Para se aproveitar do tédio (ou, às vezes, da mera sensação de estar desperdiçando tempo que poderia ser dedicado a algo prazeroso ou útil) que induz, o supermercado normalmente nos oferece itens do interesse dele: guloseimas, revistas de variedades e outros itens com margem de lucro elevada.

Note que usei a palavra induz: o supermercado não tem o poder de provocar o tédio, apenas de criar as condições gerais para que ele ocorra. Você pode impedi-lo (sem recorrer às revistas da semana passada que estão ali à venda) de muitas formas, e eu pratico várias delas para tornar menos inútil ou reduzir o desprazer daquela espera forçada:

  • Repassando e complementando (mentalmente, no papel ou no celular) agendas e pendências do dia seguinte
  • Aproveitando para realizar alguma outra tarefa chata para a qual nunca temos tempo, como fazer uma limpa na agenda de contatos, ou fazer aquele telefonema necessário mas indesejado para alguém
  • Lendo algo à minha escolha no celular (notícias, se tiver conexão, ou um ebook instalado nele para essa finalidade, nos demais casos)
  • Ouvindo uma música à minha escolha, com fones de ouvido que eu estrategicamente levei comigo [afinal a música suave do supermercado não está lá para nos fazer sentir satisfeitos]
  • Se tudo o mais falhar, repassando mentalmente algo que desejo fazer, ou alguma história vivida - qualquer coisa que remova a minha mente daquele estado de espera indefinido e fora do meu controle.

Peguei a fila certa?

Além do tédio, os outros 3 fatores de chatice mencionados são relacionados à escolha da fila, ou à reanálise contínua sobre a escolha de fila já realizada.

Vamos começar isolando situações em que isso não é exatamente um problema:

  • Quando você sabe um lado da loja em que as filas são menores ou mais rápidas
  • Quando você tem um caixa preferido
  • Quando você consegue ver todas as filas de uma só vez e se julga em condições de ter certeza sobre qual a melhor delas
  • Quando todas as filas são suficientemente curtas

Algumas das situações acima podem ter sua probabilidade aumentada já no ato de escolher o supermercado ou a data/horário das compras, e outras estão completamente fora do nosso controle, mas quando alguma delas ocorre, a escolha da fila torna-se natural e até óbvia.

Mas quando a escolha não é óbvia e desejamos realizá-la objetivamente, às vezes ela é também um problema mais complexo do que julgamos à primeira vista, pois há diversas variáveis envolvidas: o número de pessoas na fila, a agilidade dessas pessoas, a quantidade de itens nos seus carrinhos, a natureza destes itens (se podem ser apenas contados ou precisam ser pesados, se exigirão embalagem especial, ...), etc.

Algumas delas são fáceis de estimar, outras não. E há mais um fator contra-intuitivo: o ato de pagar a compra, depois de totalizado, demora um tempo desproporcional ao tamanho do carrinho de cada pessoa, e que dificilmente pode ser estimado a priori.

Por exemplo, aquela jovem atlética que só tinha 4 iogurtes naturais e um pacote de rúcula na cestinha pode querer fazer o pagamento com um cheque que ela demorará a preencher e o caixa terá que verificar com a supervisora, enquanto o senhor com cara de distraído e um carrinho cheio de legumes para pesar no caixa pode ter pago com um cartão refeição (e lembrado da senha imediatamente).

A conclusão é: embora possamos identificar parte dos fatores que fazem uma fila demorar, a ideia de que podemos avaliar qual fila demora menos, ou qual está andando mais rápido, geralmente é uma ilusão, uma peça que nossos sentidos e impressões nos pregam, e que nos geram insatisfação porque queremos otimizar tudo.

Com base nisso, minha sugestão é: a não ser que você tenha alguma razão para sair percorrendo todos os caixas em uma avaliação que gera mais esforço e gasto de tempo (e sem garantias de, ao concluir que deve retornar a uma das primeiras filas verificadas, ela ainda não terá crescido), você pode simplesmente escolher (pelos critérios da sua preferência) a mais promissora entre as que estão perto de você.

E depois que tiver escolhido, a não ser que algo inesperado (como a abertura de um caixa novo ao lado, ou problemas no seu) aconteça, resigne-se: a sensação de que as outras estão andando mais rápido geralmente se baseia em informações incompletas, e mesmo se corresponder à realidade, não é garantia de que continuarão assim.

Para completar, além de relembrar das dicas acima para combater o tédio, cuidado com a insatisfação que surge de uma expectativa geralmente infundada: de que o tempo que você pode ganhar escolhendo a fila perfeita ou trocando de fila durante o trajeto será gigantesco. Raramente é.

E se o tempo que você pode ganhar investindo esforço adicional na escolha da fila realmente for considerável no seu caso, a minha sugestão seria que você aplicasse o mesmo critério de racionalidade para escolher outro local, horário ou situação para fazer suas compras no futuro ツ

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