Fazendo acontecer: O que podemos aprender com Adams Óbvio
Obvious Adams, traduzido no Brasil como Adams Óbvio, é um personagem de ficção que eu vim a conhecer ainda na adolescência, devido a uma jogada de marketing brilhante da Souza Cruz, que encartou a sua história (na forma de livreto) nas principais revistas brasileiras, para ajudar a promover o conceito do cigarro Free - em uma época em que as leis contra o tabagismo ainda eram bem menos severas do que hoje.
A campanha não me transformou em um fumante, mas a história de Adams Óbvio me deu diversas dicas que até hoje me inspiram na hora de realizar escolhas complicadas ou de procurar o fio da meada de problemas complexos.
Capa de uma edição recente
Recentemente comprei uma reprodução da edição original do livro em inglês (datado de 1916), e acredito que os leitores do Efetividade.net gostarão de saber que existe uma tradução completa (e legalizada, acredito) do livro disponível para livre acesso na Internet.
Veja abaixo meus comentários sobre o que podemos aprender com Adams Óbvio, e os links.
"Adams Óbvio" é a biografia ficcional de Osborne Adams, que trabalhava para a Oswald Advertising Agency, em New York. O livro foi um sucesso instantâneo quando foi publicado - um fenômeno comparável ao de "Como fazer amigos e influenciar pessoas", nos anos 70, ou "A terceira onda" nos anos 80. É um livro bastante curto, com estilo que trai seus mais de 90 anos de idade, que você pode ler tranquilamente em menos de 1 hora, e eu recomendo - mas muito mais pelo potencial de inspiração do que pela possibilidade de aprender alguma lição prática. Consta que sucessivas edições se esgotaram durante anos a fio, inclusive porque executivos tinham a prática de presentear suas equipes com exemplares do livro, na esperança de inspirá-los a seguir o exemplo de Adams, por mais óbvia que a sua história seja ;-)
Todas as pequenas "parábolas" da história de Adams Óbvio acabam demonstrando a razão do seu sucesso: fazer o óbvio. Mas não aquele óbvio que salta aos olhos, que freqüentemente é a razão do insucesso de quem não analisa suficientemente suas questões - Adams sabia que o óbvio nem sempre é evidente, e ia até o cerne, não se deixando desviar dos fatos, nem cedendo à tentação de analisar apenas a parte mais interessante da amostra. Olhar objetivamente os fatos, analisá-los, chegar a uma conclusão clara, e agir de acordo com ela, é a receita da maioria das vitórias. Ainda assim, muitas vezes estas vitórias nem chegam a ser reconhecidas como tal, devido ao sherlockiano efeito de considerar simples um problema complexo, uma vez que a solução seja apresentada.
É claro que a atitude de Adams não é suficiente para levar ninguém ao sucesso, pois da direção dele não surgem as estratégias surpreendentes que acabam sendo o diferencial ou o ponto de vantagem em relação a outras empresas ou organizações que tenham a mesma competência. Mas os resultados do exemplo de Adams são um exemplo a ter em mente para quem atinge menos do que ele por duas razões básicas:
- Por não dedicarem atenção suficiente à análise, acabam fazendo menos do que o óbvio; ou
- Por desejarem se destacar mais do que desejam resolver o problema, deixam de fazer o óbvio.
Na minha opinião, toda equipe bem-sucedida deseja ter pelo menos um Adams Óbvio, e todo líder de sucesso deve saber quando seguir o exemplo de Adams, e quando fugir dele.
E não tenho dúvida de que todo mundo em busca de um avanço em sua carreira não pode deixar de ler e refletir sobre a história de como Adams obteve seu primeiro emprego em publicidade. E quem lida com chefes ou equipes que têm dificuldades em remover a neblina que esconde o óbvio deve recomendar especialmente o trecho em que Adams descobre como aumentar a lucratividade da filial da loja de calçados.
Para ler a história completa, veja a tradução oficial disponibilizada on-line e gratuitamente por uma agência de marketing chamada... Óbvio.
Ao final do texto traduzido, há um anexo escrito pelo autor, anos depois da publicação, explicando 5 maneiras de testar o óbvio, e 5 caminhos criativos para reconhecê-lo. Eis os caminhos, mas para saber a explicação e os exemplos do autor você terá que ler lá ;-)
- Não se impressione como a coisa sempre tenha sido feita ou como outras pessoas gostariam de fazê-la.
- Imagine como seria divertido se tudo pudesse ser completamente invertido. (O fato de uma coisa ter sido feita ou construída de um certo jeito, por vários séculos, significa, possivelmente, que chegou a hora de questioná-la.)
- Será que você conta com a aprovação e com a participação do público no seu projeto?
- Quais oportunidades estão passando desapercebidas porque ninguém se importou de examiná-las?
- Quais são as necessidades específicas do caso?
Os exemplos são bastante ilustrativos, mas também são um testemunho da idade do livro: a invenção dos carros-leito em ferrovias, a caneta esferográfica, os supermercados (o conceito do "pegue e pague"), os queijos Kraft. Todas estas idéias parecem óbvias hoje, e não dão a idéia de serem uma grande aplicação de tecnologia. Mas elas certamente não eram óbvias antes de serem inventadas!
O resumo da ópera: fazer apenas o óbvio não é receita de sucesso, mas fazer menos do que isto, ou deixar de fazê-lo, é sempre um caminho arriscado.
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