Corrente da felicidade: 5 coisas que me irritam (e mais 5 faixas-bônus)

Agradeço os convites recentes para participar de correntes da felicidade blogueira, e tenho anotado aqui os seguintes autores: Bardo, Thiago Rodrigues, Luiz Henrique de Paiva Jose, Roberto Machado - espero não ter esquecido ninguém!

Não sou fã de correntes e portanto neste ato estou quebrando-as - não vou convidar ninguém. Mas para não ser um chato de galochas, vou responder abaixo a uma delas, listando 5 coisas que me irritam:

  • Site de notícias que não disponibiliza feeds: Alô, estamos em 2007, e 1998 ligou pedindo suas notícias "html only" (quando muito com push por e-mail) de volta! Ainda esta semana vi um site de notícias rodando em um CMS livre bem conhecido, e sem feed - ou seja, intencionalmente o editor desabilitou o feed, provavelmente achando que isto geraria mais, e não menos, leitores cativos. Ilusão.
  • Problemas sérios de acessibilidade em websites: E nem estou falando da proteção aos deficientes visuais desta vez. Sites que conscientemente (quando não intencionalmente) prejudicam a interação de quem não tem determinado browser, determinado plugin (obscuro ou não), sistema operacional ou modelo de teclado certamente acabarão indo parar nas grandes fogueiras, e seus autores serão os primeiros a ir para o Paredão quando a revolução chegar. Da mesma forma, sites que tentam reimplementar operações simples, como a entrada de dados por teclado em formulários, passarão 4 anos na prisão de Lefortovo sem direito a assistir ao show de cancan dos prisioneiros do bloco C.

  • Imposição de direitos: Atuo há mais de 10 anos na cena do código aberto no Brasil, e continuo me irritando quando vejo pessoas ou entidades tentando impingir direitos aos outros. Manifestações em prol da liberdade, da acessibilidade, do acesso ao código, etc. são sempre válidas, mas a imposição de uma ideologia, a tentativa de transformar a liberdade em uma obrigação, é um saco e é ineficaz, porque acaba gerando o movimento de oposição e a rejeição por parte do público, que não quer ser obrigado a nada. Em geral as pessoas ficam felizes se recebem alguma possibilidade que consideram vantajosas nos seus termos - por exemplo, uma appliance baseada no livre MythTV que faça tudo que o TiVo faz, mas de forma mais econômica - e ainda por cima em software livre. Mas se você diz a um usuário final do TiVo que seu produto é ruim porque aplica ou tolera DRM, e ele não deveria mais usá-lo, o resultado pode ser bem diferente. Qual é mais eficaz?
  • Quando confundem SEO e monetização com a lei da selva da imprensa marrom: Noticiar enforcamentos, maus passos de celebridades, indisponibilidades em sites populares e acidentes faz parte do jogo, o público deseja e os anunciantes querem pagar, embora as maneiras como isso vai para a capa no Notícias Populares e no Estadão sejam bem diferentes. Criar o hábito de publicar notícias com títulos intencionalmente dúbios, estilo tablóide, e regularmente inserir notícias atrai/pega-trouxa em sites que usualmente buscam outro tipo de leitor acaba podendo cansar o leitor regular e diluindo a credibilidade da turma toda, e não só do autor que topa manter um tablóide disfarçado de blog.
  • Quem prefere subir no púlpito e reclamar bem alto do que ajudar os outros a lidar com o problema: não faltam exemplos de pessoas que conquistam seu lugar ao sol por falar *contra* as coisas que incomodam os demais, e não por explicá-las e indicar como lidar com elas. Acontece na comunidade, na imprensa, e nos blogs. Para estas pessoas, que acreditam mesmo que nasce um idiota a cada minuto, o ideal é que os fenômenos que geram interesse do público não sejam bem explicados, para que elas possam criticar (de preferência vociferando) com os argumentos mais absurdos, e o público embascado achar tudo perfeito, porque também não gostam destas medidas, embora não as entendam e nem saibam o que fazer a respeito delas. Quando o público entende as coisas, estas vozes da indignação precisam se esforçar mais, o pastor começa a ser contestado durante sua pregação, com perguntas que tem dificuldade em responder sem deixar claro que o seu negócio não é resolver nada, mas apenas reclamar bem alto.

Bônus: 5 coisas que me irritam em discussões na Internet

Argumentos em permanente mutação: é aquele fenômeno em que o sujeito perde o foco da discussão como algo que busca estabelecer o consenso ou uma visão da realidade, e passa a perseguir um desejo de "ganhar", que consiste em não aceitar a possibilidade de o outro estar certo. O exemplo típico é o cidadão que, apesar de já ter recebido respostas que invalidam completamente seus argumentos iniciais, em nenhum momento reconhece que estava errado, e ao invés disso fica insistindo na discussão já "perdida", cavando outros argumentos, não relacionados ao seu inicial, pelos quais as respostas do outro não são 100% corretas em todas as situações de exceção possíveis. Em geral é aquela apelação tola, do tipo que perde quando alguém lembra que "apelou, perdeu".

Retirar o que disse sem assumir que estava errado: é um caso ainda mais chato do item acima: aquele sujeito que lê e entende as respostas que recebe, mas ao invés de admitir que estava errado e agradecer o feedback recebido, se sai com a clássica "mas não era isso que eu queria dizer", ou a bem mais triste "obviamente eu estava sendo irônico do começo ao fim" - apesar de todas as evidências em contrário.

Sair de fininho ao invés de assumir que não tem resposta: o sujeito debate, espicha a discussão, tenta de todo jeito, mas não consegue, seu argumento é indefensável. Aí ele concede que estava errado e agradece? Não, simplesmente pára de responder, sai de fininho, e fica aguardando a próxima oportunidade de ser pé no saco.

Foi o meu sobrinho: essa é uma das mais humilhantes para quem pratica: ao receber uma resposta inesperada, o sujeito cheio de si mas subitamente colocado abaixo do capacho em termos de moral não tem a hombridade de pedir desculpas ou se corrigir: prefere sair-se com a clássica (e que nunca convenceu ninguém) "esqueci logado e foi o meu sobrinho que escreveu". Infame.

Ideologia na frente dos fatos: o sintoma mais comum é acrescentar a expressão "não me venha" logo após fazer uma pergunta ou proposição. É aquela pessoa que rejeita argumentos não aprovados pela sua ideologia, sem nem mesmo analisá-los ou debatê-los. Típico de discussões vazias.

E você?

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