Você usa bem o tempo que o seu ganho de produtividade libera?
Tenho escrito bastante sobre Home office, trabalho em casa, e outras formas que, em sua essência, permitem um grande ganho de produtividade ao remover obstáculos comuns a ela, como as interrupções fora de controle, o tempo de preparação e deslocamento, e vários outros.
Mas traço sempre uma linha clara aí: o objetivo não pode, ou ao menos deveria, se limitar ao ganho de produtividade e de eficiência - isto deve ser um meio para a efetividade, aproximando você de algum objetivo maior. Numa recente entrevista, expus minha posição pessoal sobre isso, ao responder sobre o método GTD:
Mas algum tempo depois de ler o livro Getting Things Done, acabei concluindo que para mim isto tudo só valia a pena se fosse usado em conjunto com o conceito de efetividade, e não em uma ótica de eficiência ou produtividade pessoal.
O meu objetivo é tornar minha rotina mais agradável, com resultados que produzam os efeitos esperados, modificando o meu ambiente de forma positiva. Outras pessoas têm demandas diferentes, e precisam manter em primeiro plano a questão da eficiência e da produtividade pessoal, e no caso delas eu acredito que seja melhor fazer uma interpretação mais literal do GTD ou de outras metodologias que se adaptem à sua rotina.
E creio que venho levando isso bem a sério: cada vez mais, venho aplicando em meu próprio benefício os ganhos de produtividade e eficiência que obtenho na minha "carreira solo", mantendo bem clara a intenção de "tornar minha rotina mais agradável, com resultados que produzem os efeitos esperados, modificando o meu ambiente de forma positiva" - passando bem longe da cultura do "Karoshi", termo japonês que significa "trabalhar até a morte" (no sentido literal, de morrer de tanto trabalhar), algo reconhecido juridicamente por lá desde a década de 1980, como visto num caso recente.
Isso corresponde também ao discurso moderno das negociações entre patrões e empregados: o aumento de eficiência alcançado pelos trabalhadores, com o seu aprendizado, adaptação a formas mais avançadas de automação, metodologias da qualidade, etc. não deve reverter *apenas* em benefício do empregador: uma parcela deve ser distribuída aos funcionários também, a título justamente de "ganhos de produtividade".
Nesse sentido, uma coluna do Ricardo Kotscho me fez pensar exatamente sobre o lado oposto da questão acima: o objetivo também não pode se limitar a "ter mais tempo livre". É preciso dar pelo menos mais um passo, e decidir para que desejamos ter este tempo livre.
A coluna dele, intitulada "No meio da semana, entre a liberdade e a solidão", foi escrita na semana do apagão da Internet em SP, que o atingiu em cheio. Mas ele é seu próprio chefe, não tinha nada agendado, e ia pra praia naquele dia, e foi.
Mas, na praia em um dia de expediente, ele acabou descobrindo que as suas metas estavam erradas - ele freqüenta a praia pelas companhias, e não pela natureza ou pelo clima. Só que num dia de expediente, nenhuma das companhias está lá - e isto deu origem a uma coluna melancólica (mas não triste), justamente sobre a questão de perceber, depois de alcançar uma meta, que a meta estava errada: aquilo que ele estava perseguindo não era o que de fato ele queria ou precisava.
Sozinho no mundo, liguei logo para meu único irmão, o popular Alemão, que mora em São Sebastião, e só vai uma vez por mês para São Paulo, convidando-o para jantar. Sem mulher nem lépitópi, a solidão não demorou a bater.
Fui até o armazém do Boi, aonde pescadores, aposentados e pedreiros do condomínio costumam se encontrar para tomar cerveja nos finais de tarde, mas nem os bebuns de costume, nem o Boi, estavam lá.
Solitária, a balconista Nilda se queixava da falta de movimento, do silêncio, do marasmo absoluto da vida na praia nestes dias frios de julho - eram lamúrias no sentido inverso de quem precisa enfrentar o trânsito das seis da tarde em São Paulo.
E ele continua, lembrando uma experiência parecida que viveu em 2000: chegou a se aposentar, com o plano simplesmente de "morar na praia", mas cometeu o mesmo erro. Assim que a temporada de verão acabou e a "praia" passou a ser um deserto frio, ele percebeu que tinha mirado no alvo errado e... "Cheguei a tomar algumas notas para o livro, mas não agüentei nem dois meses. A cada semana, mais alguém ia embora da praia, o silêncio foi ficando ensurdecedor e, antes de março começar, já estava trabalhando outra vez na grande imprensa, com o Augusto Nunes, na revista “Época”."
O que nos leva a duas reflexões:
- Os meus ganhos pessoais de produtividade e eficiência estão revertendo a meu favor?
- Eu sei onde quero chegar com estes ganhos?
Convido-os a usar os comentários para apresentar seu ponto de vista, e indico duas leituras adicionais:
- Planejamento estratégico: como aplicar à sua vida
- Planejamento estratégico: quais são os seus valores?
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