Vivendo de forma assertiva

por Patricia Wolff, autora convidada para a série "Competências"

“Há três abordagens possíveis para se conduzir as relações interpessoais. A primeira é pensar apenas em si mesmo e passar por cima dos outros. A segunda é sempre pôr os outros à frente de si mesmo e a terceira é a ideal – a pessoa se coloca em primeiro lugar, mas leva os outros em consideração” (Joseph Wolpe)

Afinal, o que é assertividade? Simples: dizer a coisa certa, da forma certa, na hora certa, para a pessoa certa no local certo. Parece fácil, não? Mas por que na hora de colocar em prática o simples se torna complicado?

Na maioria dos casos isso acontece por dois grandes motivos:


  • O comportamento assertivo não é um comportamento natural, como por exemplo uma reação instintiva de luta (confrontar ou agredir) ou fuga (evitar ou reprimir). Ele requer um processo de aprendizagem e muita prática para tornar-lo espontâneo.
  • A sociedade acaba nos estimulando para dois extremos: excesso de individualidade ou de socialização. Para este último aspecto Freud em seu livro ‘O mal estar na civilização’ (1929) já dizia que socializar-se é reprimir-se. Exceder na socialização nos leva a dizer não para algumas necessidades nossas e sim para as necessidades do outro, sacrificando nossos desejos em prol dos desejos alheios. Ao exceder na individualidade optamos por impor nossos desejos, mesmo que para isso seja necessário invadir o território do outro.

Qual seria então a melhor alternativa de comportamento diante deste contexto?

Antes de responder vamos entender as diferenças entre os 4 tipos de comportamentos:


  1. Passivo: Caracteriza-se principalmente pela fuga diante do conflito. Faz-se de tudo para evitar a briga. O individuo não expressa suas necessidades, pensamentos e sentimentos, permitindo que os outros as determinem. Vive muito preocupado com a opinião dos outros a seu respeito. Evita abordagem direta, cede facilmente e, conseqüentemente, se sobrecarrega pois tem dificuldade em dizer não. Pensamento típico: “O que quer que eu pense não é importante”.

  2. Agressivo: Seu comportamento, diante do conflito, é de luta, seja por suas idéias, interesses ou poder, é uma guerra que sempre terá um ganhador e um perdedor. Mais preocupado com os próprios desejos do que com os dos outros. Critica as pessoas e não seu comportamento, interrompe com freqüência e é autoritário. Pensamento Típico “O que quer que o outro pense não é importante. É um absurdo ele pensar de uma forma diferente”.

  3. Passivo/agressivo: Tem um comportamento misto, com elementos de agressividade (quando acredita que precisa vencer o outro) e passividade (quando não tem coragem de confrontar as pessoas). Tem um jeito sedutor e manipulador de usar as pessoas para atingir resultados. Sua linguagem é indireta, consegue deixar as pessoas confusas quanto a sua real intenção e às vezes demonstra um humor irritante. Pensamento Típico: “Suponho que eu mesmo terei que digitar o relatório ... da próxima vez que me pedirem algo, que esperem”.

  4. Assertivo: É capaz de expressar suas necessidades, opiniões e sentimentos, confiante de que não está dominando, explorando nem coagindo o outro a agir contra a sua vontade. Busca defender seus desejos, sem ignorar os dos outros. É direto na abordagem de assuntos e problemas, mas demonstra respeito pelo chefe ou colega de trabalho, ouvindo e procurando entender sua perspectiva. Aceita acordos e soluções e foca no ganha-ganha. Fala Típica: “Concordamos que o relatório deveria estar pronto às 12hs e agora são 14hs. Está com algum problema?”

Respondendo a pergunta acima, o comportamento assertivo, sem dúvidas, é uma boa alternativa, pois proporciona melhores chances de conseguir um resultado que satisfaça ambas as partes.

Algumas causas para o comportamento não-assertivo:

  • Medo de magoar o outro
  • Ter dificuldade em controlar as emoções.
  • Acreditar que o outro é mais importante ou tem mais poder do que ele próprio.
  • Não conseguir se colocar no lugar do outro.
  • Desvalorizar a própria capacidade de resolver problemas.
  • Escutar seletivamente.
  • Ter necessidade de ser apreciado.

Para o comportamento assertivo aparecer, precisamos da soma de algumas habilidades:

  • Ser flexível
  • Ter empatia
  • Saber ouvir
  • Ser transparente
  • Ser objetivo
  • Ter boa auto-estima
  • Estar de bem com a vida

Resumindo, para sermos assertivos precisamos de essencialmente dois ingredientes:

  1. Ter mais autoconsciência: conhecer a pessoa que você realmente é, gostar dela e ser responsável por ela;
  2. Fazer escolhas: além de escolher a palavra certa, precisamos ficar atentos ao tom, a entonação, o volume da voz, expressões faciais e gestos.

Agora, antes de prosseguir com a leitura, faça uma reflexão sobre como anda a sua assertividade, e anote suas respostas lembrando que só você terá acesso a elas:

  • Que situações lhe causam problemas? E quais você enfrenta com mais facilidade?
  • Como você se sente sobre a sua capacidade de se expressar? Em geral se sente bem fazendo isso?
  • Sua assertividade está à altura da sua posição que você ocupa? Em que aspecto você poderia melhorar?
  • Pense em uma pessoa que você conhece que possua comportamento assertivo. Como essa pessoa se comporta, o que ela faz que te leva a concluir que ela é assertiva? Quais desses comportamentos você poderia começar a treinar?

Analise as suas respostas e escolha apenas uma situação para aplicar as dicas a seguir.

Como fazer isso muito bem?

(adaptado do livro: Desenvolva sua assertividade)

  • Seja direto. Afirme o que você sente, pensa ou precisa. Não presuma que a pessoa saiba que se passa dentro de você. Situação :“Estou aborrecido porque...”, “Sinto-me frustrada porque ...”
     

  • Ataque o problema e não a pessoa. Parece sutil mas é de grande importância distinguir a identidade da situação. Situação :“Você sempre coloca a toalha molhada em cima da cama !” de “Por favor, não deixe a toalha molhada em cima da cama pois me incomoda deitar na cama molhada”.
     

  • Seja específico, não generalize. Não acuse, apresente fatos. Em vez de “Você está sempre atrasado” por “Por que você se atrasou novamente hoje?”
     

  • Não se desculpe nem se justifique em excesso. Uma vez é o bastante para se desculpar se for feito com sinceridade, de forma direta, precisa e segura sem maiores delongas. Tome cuidado pois, às vezes, presumimos que estamos protegendo os sentimentos da outra pessoa quando na realidade podemos estar confundindo ou aborrecendo. Ao invés de dar uma longa explicação para justificar o porquê você não pode cuidar do cão do seu amigo, diga “Tenho alergia a pelo de cães, portanto não posso cuidar do Bob no final de semana.”
     

  • Assuma a responsabilidade por sua mensagem. Use frases na primeira pessoa para expressar os seus pensamentos, sentimentos e necessidades. Ao invés de “Estou certo que você concordaria que a única coisa sensata a fazer é uma fusão” prefira “Eu acho que a melhor opção é a fusão.”
     

  • Seja franco. Com você mesmo, com suas necessidades e sentimentos como eles são e não como as pessoas acham que deveria ser. Sua vida não pode ser pautada pelos “poderia”, “deveria”, pois são julgamentos de valor e podem despertar sentimentos de culpa. “Sim eu assumo as responsabilidades de mãe seriamente, mas meu trabalho também é importante para mim.”
     

  • Seja claro nas suas instruções e pedidos. Diga o que você de fato quer. Ao invés de “Você gostaria de colocar o lixo para fora para mim?, que além de tudo você pode receber uma resposta muito educada do tipo: “Não, obrigado.” Diga “Por favor, você colocaria o lixo para fora para mim?.”
     

  • Lembre-se dos seus direitos. Não é necessário qualificar-se para obtê-los como: ser avaliador dos próprios pensamentos, comportamentos e emoções; expressar seus desejos e como se sente; ser ouvido; ser imperfeito (como qualquer outra pessoa).

A fim de entender a aplicação do conceito de assertividade e sua implementação, experimente fazer o seguinte exercício:

Considere a seguinte situação: Você está na reunião de departamento em que apresentará um projeto de novo produto que poderá trazer ótimos resultados para a empresa. Porém, mais uma vez a reunião está sendo dominada por Paulo, seu par, um profissional obstinado com opiniões inflexíveis e que tem resposta para todas as perguntas.

  1. Descreva para você mesmo, qual é o seu comportamento espontâneo para esta situação?
  2. Você o caracteriza como agressivo, passivo, passivo-agressivo ou assertivo?
  3. Como você poderia tornar esse seu comportamento mais assertivo?

É importante ressaltar que não existe resposta certa ou errada, afinal não existe uma única resposta 100% assertiva e sim um progresso gradual de seu comportamento rumo ao seu desenvolvimento.

Contribua comentando o que você pretende fazer e/ou fez para aumentar sua assertividade.

Um abraço até o próximo post que será bem interessante e útil, sobre Construção de Relacionamentos (network).

Patrícia Wolff

Para saber mais:

Seja Assertivo!
Vera Martins
Editora Campus, 2005
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=7020&tipo=2&isbn=8535215905
 


Desenvolvendo sua assertividade
Sue Bishop
Clio Editora, 2008
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=7020&tipo=2&isbn=8578310047
 


Assertividade
Terry Gillen
Nobel, 2001
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/externo/index.asp?id_link=7020&tipo=2&isbn=8521309996
 

A autora convidada da série de artigos sobre Competências, Patrícia Wolff, atua como coach executivo e de equipe, conferencista em Desenvolvimento Humano e é diretora da Quantas Consulting.
 

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