Dica do dia: cuidado com o gestor que quer transformar torres em cavalos
No xadrez, a robusta torre defende longas distâncias, mas só pode andar em linhas retas; já o ágil cavalo ataca saltando em formato de uma letra L, só que apenas 3 casas de cada vez. O tabuleiro vem suprido com ambos, mas todo bom jogador sabe que eles não são intercambiáveis.
Na vida corporativa, projetos e planos de trabalho são criados com bases em cenários e expectativas mas, mesmo quando feitos com qualidade, precisam depois se defrontar com a realidade como ela se desenrolar.
Quando a realidade é mais extrema que o planejado, é normal e esperado recorrer a uma série de medidas corretivas, várias delas integrantes do seguinte catálogo: reduzir escopo, cortar custos, negociar prazos, ampliar horas de trabalho disponíveis (por exemplo, cortando outros projetos, ampliando horas extras ou ampliando equipe), entre outras.
Mas na hora da pressão, frequentemente o gestor ouve a voz da tentação, e acaba querendo improvisar fugindo ao planejado sem mudar recursos, prazos, custos ou entregas e produtos, transformando assim o projeto em uma gincana.
É nesse momento em que ele começa a agir com base no irreal desejo de que toda a equipe (que muitas vezes foi selecionada com base no cenário que ele mesmo planejou) se adeque ao perfil necessário a atropelos, correrias e outros procedimentos expressos, necessários à gincana que ele idealizou para cumprir de outra forma as entregas originalmente planejadas.
Deixa comigo, que essa torre está precisando de um incentivo
A metáfora que ilustra este post foi comunicada a mim em outro contexto, em um recente curso ministrado pelo consultor Márcio Schultz. E ela demonstra claramente a questão dos diferentes perfis de trabalho, cada um importante a seu modo: o integrante da equipe não é personagem de videogame que possa ter seu perfil modificado ao longo da partida (já pensou? A coisa aperta e o chefe comanda: +agilidade +resistência --iniciativa).
A situação se aproxima mais das peças do xadrez, cada uma com suas competências estabelecidas e à disposição para serem estimuladas ao máximo, e aproveitadas dentro do seu perfil. Afinal, se o gestor tentar usar o oblíquo bispo para fazer o que a torre faz, por exemplo, pode até conseguir, mas sem a mesma qualidade ou tempo de resposta (2 ou mais movimentos para chegar ao ponto em que a torre chegaria em um só, e com mais riscos).
A ilustração demonstra o ponto de vista do gestor que se ilude ao transformar seu projeto em uma gincana:
Aos olhos desse gestor, é tudo muito óbvio: se até o simples cavalo consegue pular em L, a poderosa torre anda só em linha reta porque não está se esforçando. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. É só botar pressão nela que ela se ajusta, senão vai ter que ser substituída por outra mais motivada.
A dica é: cuidado com esse gestor, porque além de improvisar em desacordo com as peças que têm no tabuleiro, provavelmente isso também é uma estratégia para desviar a culpa.
E se você for gestor, cuidado nos 2 sentidos: com o seu próprio gestor, e para não se transformar no jogador de xadrez que pensa estar jogando videogame!
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