Scrum: metodologias ágeis apresentadas para praticantes e para não-simpatizantes
Scrum é um destaque entre as chamadas Metodologias Ágeis, atrativas na mesma medida em que são polarizadoras de opinião. Mas o novo livro do Cesar Brod a respeito consegue escapar das polêmicas e apresentá-lo com leveza e simplicidade, interessando tanto a quem já pratica como a quem ainda não conhece.
Scrum é um nome já consolidado mas longe de ser absoluto no gerenciamento de projetos. Uma característica que o distingue é reconhecer que ao longo de um projeto os clientes podem mudar de idéia sobre o que desejam e precisam, e que desafios imprevistos não são facilmente tratáveis na maneira tradicional, preditiva, de planejamento.
Assim, o Scrum adota uma abordagem empírica, aceitando que o problema não pode ser completamente compreendido ou definido, e focalizando seus esforços na maximização da capacidade da equipe responder às alterações de requisitos.
O Scrum é uma metodologia ágil (especialmente aplicada no desenvolvimento de software, mas não restrita a ele), cujo ciclo básico você vê acima, com o backlog geral e o de cada sprint, o ciclo de um sprint (2 a 4 semanas) e o ciclo diário, até concluir na forma de um produto.
As características essencias que distinguem o Scrum em relação a outras alternativas populares são:
- condução iterativa, dividida em ciclos (chamados de sprints);
- conjunto de requisitos e funcionalidades do projeto registradas em um Product Backlog;
- conjunto de tarefas alocadas a cada sprint registradas em um Sprint Backlog;
- interação próxima entre o Product Owner, que atua em um papel similar ao de um representante dos stakeholders e patrocinadores, e a equipe de projeto;
- foco na agilidade, com equipes auto-gerenciadas, em que o Scrum Master tem papel de facilitador e motivador – um capitão de futebol, e não um capataz.
Há diversas implementações de sistemas para gerenciar os processos do Scrum, desde modelos simples baseados em etiquetas Post-It e quadros brancos, até softwares específicos. Uma das principais vantagens do Scrum é a facilidade de ser compreendido e o pouco esforço necessário para começar a empregá-lo.
O Manifesto Ágil, de 2001, estabeleceu princípios que norteiam o Scrum. Para o Manifesto, é importante valorizar interação mais do que processos, software em funcionamento mais do que documentação abrangente, colaboração com o cliente mais do que negociação de contratos, e responder a mudanças mais do que seguir um plano.
Não que os itens que ficam em segundo plano não sejam importantes, mas os outros (que frequentemente ficam em segundo plano em metodologias mais "clássicas") merecem consideração especial, para seus autores.
Quanto ao Scrum especificamente, trata-se de um modelo de processo baseado em um conjunto de práticas e de papéis definidos, cuja nomenclatura (incluindo o nome Scrum, a repetição de sprints e mais) é derivada do Rugby. Ele estimula a formação de equipes auto-organizadas, encorajando que todos os seus integrantes compartilhem o mesmo ambiente e comuniquem-se verbalmente.
Quando estou na condição de gestor, tenho bastante simpatia com os princípios do Manifesto Ágil, mas eu os uso como freios e contrapesos para evitar aplicar demasiada rigidez a outras práticas, como as do Gerenciamento de Projetos descrito pelo PMBoK.
Particularmente valorizo o esforço pelo comprometimento a um conjunto de requisitos previamente identificado para cada versão, e a presença de documentação detalhada mais do que precisaria para para adotar de forma direta um método como o Scrum no que eu mesmo realizo. O que não significa dizer que não o considero válido ou aplicável a outros projetos, claro.
O livro: Scrum, guia prático para projetos ágeis
A Novatec lançou recentemente o livro Scrum – guia prático para projetos ágeis, que busca ao mesmo tempo servir para a leitura na íntegra e para referência posterior sobre o Scrum, descrito como uma atitude.
A imagem da capa é expressiva, mostrando o scrum original que dá nome ao método: um scrum de jogo de rugby, momento crítico em que todo o time precisa atuar, cada um em seu papel e sem ninguém poder coordenar o conjunto completo, para dominar bola e fazê-la avançar.
O autor, Cesar Brod, trabalha na área de TI desde o início da década de 1980, e em um currículo que inclui desde o empreendedorismo até a coordenação de ações do governo federal relacionadas a dados abertos, e acompanha desde a década de 1990 as técnicas e práticas que em 2001 levaram à publicação do Manifesto Ágil (produzindo frutos como o Extreme Programming e o Scrum).
Da sua própria experiência e do vasto cabedal de referências e causos que ele menciona, sem recorrer a tediosas notas de rodapé, mas sim incorporando ao texto, nasce uma obra bem atrativa, que pode ser lido como se não fosse um guia sobre um tema técnico potencialmente enfadonho.
Ficam claros os papéis dos integrantes, as ferramentas (como o kanban e o lúdico e efetivo Poker do Planejamento, para priorizar tarefas a partir da visão de todos os envolvidos), os artefatos, os ritos – incluindo a reunião diária de 15min, em que cada participante diz, basicamente, o que fez ontem, o que fará hoje, e quais os obstáculos que estão no seu caminho imediato – e em que consiste a prática – e o zen – do scrum.
Os capítulos finais tratam de desafios especiais, como estimar prazos e custos, ou definir quando o produto está pronto1, de ferramentas indicadas, e do uso do Scrum fora do desenvolvimento de software, tanto na gestão quanto na vida pessoal, acadêmica e familiar.
São 188 páginas repletas de conteúdo, e o melhor: até um não-simpatizante da aplicação direta do Scrum pode ler, aprender itens aplicáveis às suas próprias práticas, e gostar. É o meu caso, portanto posso afirmar 😃
O sumário e um capítulo de exemplo estão disponíveis on-line. Recomendo! Scrum – Guia Prático para Projetos Ágeis, de Cesar Brod, pela Novatec.
- Afinal, se as especificações de um projeto podem mudar quase continuamente, é preciso um critério para poder arbitrar quando ele está pronto. ↩
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