Atualizar seu currículo é uma oportunidade de auto-avaliação da empregabilidade

Manter atualizado o seu currículo é um excelente exercício de auto-análise e uma forma de manter os olhos abertos para o que está acontecendo com a sua empregabilidade.

O modelo de currículo campeão do Efetividade

Mesmo estando plenamente satisfeito com minha situação de trabalho atual, eu costumo atualizar o meu próprio currículo duas vezes por ano, e o faço de uma forma que me permite ter uma visão bem pragmática sobre quais os conhecimentos e habilidades (lembrou da nossa série sobre Competências?) que estou agregando, e o que o ambiente profissional (no sentido mais amplo) em que atuo valoriza.

Eu fiz minha auto-avaliação e atualização de currículo no início do ano, e atualizei até mesmo a versão resumida em um único parágrafo (40 palavras) que mantenho no cabeçalho do meu site pessoal. O processo de revisão foi bastante proveitoso, e por isso compartilho com vocês a idéia de fazê-lo.

Por que é bom atualizar sempre o currículo?

Porque é uma ótima maneira de perceber o seu status profissional e compará-lo com a sua própria expectativa de desenvolvimento profissional, e com o que o mercado de trabalho vem valorizando. E, claro, planejar atitudes corretivas, ou ajustar as expectativas, quando necessário.

Esta razão é difícil de explicar detalhadamente, mas fácil de ser percebida com base no exemplo contrário: ao longo de minha vida profissional (que já passou por empresas que fecharam subitamente, estatal que foi privatizada, etc.), já vi vários casos de profissionais que eram bons na posição em que estavam mas foram "pra rua" de repente, e aí subitamente perceberam que não faziam nenhum curso há 12 anos, não eram especializados em nada, não tinham experiências profissionais dignas de menção - em resumo: sua empregabilidade estava baixa, seu currículo iria para o fim da fila em processos seletivos, e o momento era péssimo para que eles pudessem fazer algo a respeito.

Fila de emprego

E infelizmente a lógica dos processos seletivos mais frequentes, em que há excesso de candidatos qualificados concorrendo a poucas vagas reduz bastante a chance de quem precisa passar pela pré-seleção (baseada em currículo e geralmente sem oportunidade de entrevista) mas não consegue apresentar exatamente os atributos que estiverem sendo buscados pelo mercado, mesmo que tenha fartura de outros mais raros e caros.

Etapa 1: Atualizando o currículo

Um bom currículo profissional é objetivo, e se torna melhor quando é feito pensando exatamente nas competências e características que devem ser destacadas para concorrer a uma vaga específica. Quando se está preparando um currículo geral, entretanto, a objetividade deve ser preservada, mas a seleção e classificação das informações fica um pouco mais ampla e solta.

Mesmo assim, a idéia de caber em tudo em uma face de uma folha A4 (e haja poder de síntese!) sem atulhá-la continua sendo um bom referencial da objetividade exigida - na hora de usar seu currículo para falar com você, jamais conte com o interesse de algum avaliador em ler mais do que a primeira folha!

Veja o que não pode faltar nesta página tão importante:

  • informações de contato atualizadas (talvez o item mais crucial!)
  • uma caracterização breve sobre você (escolhendo só o que for relevante. Dependendo da ocupação, pode ser nome completo, data de nascimento, cidade onde mora, estado civil, se tem filhos)
  • dados sobre as experiências profissionais recentes: empregos, projetos, estágios – incluindo período e atividade desempenhada em cada um deles, no mínimo, mas idealmente abordando as realizações mais relevantes entre eles também.
  • formação acadêmica: com detalhes apenas sobre as formações e cursos mais relevantes e recentes
  • outras atividades e fatos que possam ajudar a definir você como profissional: participação em eventos, atividades como instrutor, atividades comunitárias, domínio de idiomas, aptidões adicionais (exemplo: dirigir, ter carro próprio…)
  • outros itens tidos como relevantes no seu mercado ou para a vaga pretendida

Para ajudar, temos 10 dicas de conteúdo para currículos que podem orientar na busca e seleção das informações, lembrando que deve sempre ser mantida a coerência interna, bem como o alinhamento em relação aos objetivos do currículo sendo produzido.

Nosso modelo de currículo em destaque na matéria da Veja - os erros foram inseridos por eles!

Depois de levantar as informações necessárias, identificar as mais relevantes e aceitar que o resto deve ser extirpado (ou ao menos guardado para uma segunda versão mais ampla e biográfica), chega a hora de cuidar da formatação do currículo.

Existem muitas maneiras de formatar o currículo, mas se você ainda não tiver adotado a sua, recomendo o modelo de currículo profissional simplificado do Efetividade, no ar desde 2007 e que já foi até mesmo destaque na Veja.

Mas não há por que parar por aí: aqui mesmo no Efetividade há um artigo explicando como melhorar o visual do seu currículo, apresentando 5 modelos de currículos alternativos construídos a partir do nosso modelo básico - bem mais bonitos, e usando formas variadas de atrair atenção para os aspectos que você gostaria de ver destacados.

Etapa 2: Avaliando o seu currículo

A subjetividade da tarefa geralmente impede que você veja seu próprio currículo com os mesmos olhos que um avaliador, e é relativamente raro podermos contar com um profissional da área para fazer a avaliação de forma isenta.

Exemplo de anúncio de emprego

Mas existe uma maneira de avaliar o conteúdo do seu currículo com um grau um pouco maior de objetividade: fazer uma lista dos requisitos que vem sendo solicitados em contratações para as posições às quais você gostaria de concorrer, e aí compará-las com o que você tem no seu cabedal. O ponto fraco do método é a comparação em si: tente não ser muito generoso ou elástico na interpretação, para não criar uma conclusão excessivamente positiva.

Para boa parte das vagas e profissões mais comuns, é fácil encontrar fontes sobre estes requisitos: são os anúncios em jornais, em revistas especializadas, em sites de bancos de vagas, os editais de concursos públicos, e talvez até o histórico de contratações recentes na sua própria empresa.

O processo é simples: identifique tudo o que aparece como requisito ou como diferencial nos anúncios e editais, se possível pontuando (pelo número de menções, ou por outro critério que faça sentido no seu contexto), e depois compare com o que está presente no seu currículo.

Mais um dos modelos de currículo originais do Efetividade.net
 

A longo prazo (após vários anos adotando a mesma prática, e guardando os resultados), esse processo vai permitir uma visão objetiva sobre a evolução das suas competências e mesmo da sua empregabilidade.

Mas é a curto prazo que ele se torna mais útil (mesmo já a partir da primeira vez que você o executar), porque permite identificar quais são as competências e características que o mercado procura (ou valoriza) e você ainda não oferece, para que você tenha a chance de buscar desenvolvê-las antes que elas sejam necessárias - porque se deixar para fazê-lo só quando precisar procurar emprego, pode ser tarde demais...

Claro que isso deve ocorrer sem correria. Após conhecer a natureza da diferença existente, coloque os aspectos em ordem de prioridade, ignorando os irrelevantes, decidindo o que fazer com os inatingíveis no momento, e fazendo um plano para alcançar os demais (nominalmente ou a fundo, dependendo do caso) ao longo de um prazo razoável, classificando também de acordo com o grau de disponibilidade - usar os acessos recomendados para enriquecer o currículo de quem não tem experiência, ou para quem está querendo voltar ao mercado de trabalho, pode ajudar.

Soluções criativas, como buscar experiência gerencial atuando como voluntário em uma ONG, podem ser tão úteis quanto as mais comuns (como fazer cursos e obter alguma certificação) - tudo depende do caso, da pressa e do tamanho da diferença existente.

Etapa 3 - Aproveitando o momento

Já que você vai fazer uma auto-análise com foco em empregabilidade, aproveite a oportunidade para pensar em outros aspectos também - nem todos eles aparecem no currículo!

  • Como anda sua postura profissional? Que imagem de profissional você passa às pessoas que interagem com você? Existem vários comportamentos e atitudes que podem fazer você não ser levado a sério, e isso pode ser um grande obstáculo à empregabilidade e à possibilidade de promoções ou oportunidades profissionais.
     

    Chega de desculpas! Assuma sua postura e seja levado mais a sério
     

  • E a reserva para momentos difíceis? Ter uma fonte adicional de recursos, ou mesmo um fundo de reserva pessoal ou familiar, é algo que pode facilitar em muito a absorção de golpes do destino, como uma demissão súbita - e aumenta sua capacidade de dizer não quando a situação profissional exigir.
     

  • Sem esquecer do diferencial...: Além de não haver garantia de que as vagas do futuro exigirão apenas os requisitos das vagas do passado recente, não esqueça que o ideal não é ter *apenas* o que os anúncios de recrutamento exigem - você precisa ter um diferencial, e também precisa desenvolver as habilidades que agradam a você mesmo. Enriqueça seu currículo permanentemente, aumente seu círculo de contatos e faça seu nome aparecer positivamente quando o empregador um dia pesquisar por ele no Google. Na sua comunidade, participe do centro comunitário, de alguma ONG ou de iniciativas que possam tirar proveito das suas aptidões, e nas quais você possa desempenhar algum papel que faça a diferença (como bônus, assim você também pode aumentar seu networking, além do óbvio benefício de contribuir com a sua comunidade). Academicamente, faça cursos de extensão, aprenda algo que o mercado valoriza (como um idioma, informática, estatística, técnicas de vendas, resolução de conflitos, matemática financeira, ou o que for) ou dê um jeito de obter uma graduação ou pós-graduação – hoje dá para fazer isso até via Internet. Em paralelo, participe ativamente de grupos ou comunidades relacionados à sua profissão, busque contribuir com revistas ou sites da área, faça seu nome aparecer.

    Networking
     

  • Como está a sua lista de contatos profissionais? O chamado networking funciona bem, mas só para quem se dedica a ele também quando não está precisando, e para quem não o usa como se fosse outro nome para falsidade e interesse. Manter contato é fácil e pode ser até bastante espontâneo. Fazer cursos e participar ativamente da sua comunidade local e profissional são maneiras de expandir seu círculo de contatos, mas não pense que simplesmente obter uma lista com os telefones e e-mails de todos eles ao final da reunião já conta a seu favor - é necessário cultivar ativamente os relacionamentos. Assim, você não vai se ver na situação chata de se ver sem ter a quem recorrer para obter indicações e dicas na hora em que precisar procurar trabalho, e nem vai fazer aquelas ligações que ninguém gosta de receber, de pessoas que não nos procuram há 20 anos, e só surgem quando têm um problema.
     

  • Acompanhe ativamente o seu mercado de trabalho! acompanhar passivamente, lendo as notícias e mantendo-se informado, é positivo, mas não é suficiente. O ideal é acompanhar ativamente, buscando fortalecer contatos com pessoas da mesma profissão que atuem em outras empresas (do mesmo ramo ou não), parceiros, fornecedores, consultores. Se possível, seja voluntário de alguma organização de ensino ou aprendizado da sua profissão, escreva artigos para as publicações da área ou da imprensa local, participe de eventos e vá às reuniões do seu conselho ou associação profissional. Um sábio conselho, que ouvi há tempo e acredito, é que a melhor forma de obter um bom emprego é ter amigos bem empregados.

Para completar

Os 3 passos acima já foram temperados com diversos links para artigos anteriores aqui do Efetividade que podem ser úteis, mas a lista a seguir tem alguns itens a mais, e pode ajudar:

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