Investimentos Inteligentes

Li, gostei e recomendo. Poderia resumir assim esta resenha do livro "Investimentos Inteligentes", de Gustavo Cerbasi (editora Thomas Nelson Brasil), que acaba de sair, completado, da minha pilha de leituras pendentes, onde foi incluído por cortesia dos editores.

Sou Administrador e no momento estou também fazendo uma especialização em Administração, portanto você pode acreditar que já completei uma boa cota de cadeiras na área de Finanças - consigo lembrar de pelo menos 7 disciplinas já cursadas. Em quase todas elas (a exceção foi uma ministrada pelo prof. Baima, egresso do Banco Central), terminei com a impressão de que o foco foi dado ao lado errado do problema: como operar as planilhas, a calculadora HP 12C, realizar transformações, conversões e projeções numéricas, comparar duas propostas expostas detalhadamente pelo professor (sem as sutilezas que os produtos do sistema financeiro empregam), etc. - ou seja: números, ferramentas e operacionalização, e não análise, critérios e decisões.

O livro Investimentos Inteligentes não comete este erro. Suas 274 páginas não apresentam como operar a calculadora financeira e nem a planilha e, ao apresentar seu conteúdo, nem mesmo pressupõem que você saiba fazê-lo (embora esteja claro, e o autor reforce todo o tempo, que é vantajoso desenvolver estas competências técnicas).

Parte I - contextualização

Evidentemente não se trata de um livro voltado a quem tem formação na área, mas eu li do começo ao fim sem me entediar com a apresentação de conceitos, feita de forma muito hábil e suficientemente completa. Neste sentido, gostei particularmente do primeiro capítulo, que apresenta com exemplos as diferenças entre investimento, acumulação, consumo e poupança, mostrando inclusive vários casos em que coloquialmente se descreve atividades como se fossem investimentos, quando na verdade se trata de consumo, ou de poupança.

Já no segundo capítulo somos apresentados à variada fauna que habita este ecossistema. Não sou investidor, nem financista, mas conheço vários exemplares destes bichos, incluindo o "meu" gerente (na verdade, o gerente *do banco*, que eu tenho consciência que trabalha para mim apenas até o limite em que isso for vantajoso para a instituição), os falsos especialistas, os traders alucinados, os grafistas com sua crença (tantas vezes justificada na prática pelo efeito das profecias que se auto-realizam) de que a análise do passado ajuda a prever o futuro, e a entidade disforme e virtual chamada de "o mercado". As descrições que mais me atraíram a atenção foram a do "conservador que não investe" (aquele cara que pensa que o que ele está fazendo é investir, e que o que ele adotou há 40 anos continua funcionando para quem estiver começando agora) e o falso insider, sempre com um palpite "quente", mas que perde o rebolado quando você pergunta a ele se ele já investiu nesta informação que está trazendo com tanto alarde.

Este mesmo capítulo traz ainda uma lista de "falsas oportunidades" comuns - práticas que continuam atraindo muitos incautos, apesar de estarem bem próximas do conto do vigário. Me chamou a atenção a questão da "renda fixa informal" que promete pagar continuamente acima do mercado - e quase sempre acaba mal, quando os "investidores" descobrem pelo jornal que aquele seu consultor foi preso, era um agiota, emprestava o seu dinheiro adiante a juros escorchantes (e por isso podia remunerar tão bem o seu investimento), mas agora tudo evaporou mas você não pode nem mesmo processá-lo, já que o que você fez também era ilegal.

O capítulo 3 é mais um que traz uma mensagem importante e que pode ser entendida completamente sem uso de calculadoras: o que não fazer. Partindo de dúvidas enviadas pelos leitores de seus livros anteriores, o autor apresenta uma série de práticas a evitar:

  • Ter uma única fonte de renda.
  • Começar a investir cedo demais - às vezes o esforço inicial deve ser para ampliar a renda, e só depois começar a investir.
  • Esperar demais (até ter dinheiro sobrando)
  • Contar com instituições demais (ou de menos) para gerenciar a riqueza
  • Querer já começar grande
  • Poupar, pensando que está investindo
  • Ter um único investimento
  • Sonegar impostos devidos
  • Paralisia, ou seu oposto, o giro excessivo

e vários outros.

Em seguida, o capítulo 4 apresenta as qualidades do bom investidor. Mas não é uma lista daquelas que escondem o pulo do gato: em vários casos, o autor explica a razão de cada qualidade ser importante, e como colocá-la em prática. Me chamaram a atenção a necessidade de ter objetivos clara e objetivamente definidos (não é "ganhar dinheiro" ou "ficar rico"), a diversificação, a prática constante do rebalanceamento de investimentos, e a presença de um plano B: "Planos para a dificuldade envolvem: a quem recorrer, o que vender, para quem vender e onde obter uma atividade remunerada, entre outros."

Ainda sobre o Plano B, cito um trecho que combina muito com o que eu mesmo penso e pratico: "Quem cresce na carreira já construindo uma segunda carreira alternativa está, de longe, com uma paz interior muito maior do quem foca completamente em um determinado cargo."

A primeira parte do livro termina no capítulo 5, apresentando mitos ou afirmações questionáveis sobre o mercado de capitais, incluindo questões sobre a realidade específica do Brasil, como lidar com o risco, a questão do perfil do inverstidor, e outras.

Parte II - estratégias

A parte II é mais concreta e direta, voltada a estratégias específicas usando famílias, produtos e alternativas usuais do mercado, e por suas características tão específicas, torna-se um desafio muito grande para a descrição em uma resenha, exceto da forma mais genérica. Temos assim:

  • No capítulo 6: estratégias com renda fixa, incluindo títulos públicos, a própria caderneta de poupança (que voltou a ter usos vantajosos) e similares, os CDBs, debêntures, LCIs e mais. A questão dos impostos que incidem é tratada com atenção especial, pois muitas vezes faz toda a diferença mas não é apresentada tão claramente pelo "seu" gerente.
  • No capítulo 7: estratégias com ações, desde por onde começar, o papel das corretoras e como selecioná-las, homebrokers, as estratégias comuns (que você precisa conhecer, mas não necessariamente adotar), detalhes sobre as análises fundamentalistas e grafistas, e um conjunto de dicas a considerar na hora de montar sua carteira.
  • No capítulo 8: estratégias com fundos, apresentando a variedade existente, vantagens e desvantagens, critérios para escolha, a questão tributária, e a recomendação de usar bastante os recursos que o banco oferece.
  • No capítulo 9: estratégias com previdência privada. As vantagens deste método são específicas para alguns casos, mas nestes elas podem fazer muito sentido. São apresentados os produtos disponíveis e suas vantagens, a questão da tributação, que é especialmente importante neste caso, e os cuidados que você deve ter na hora da negociação.
  • No capítulo 10: estratégias com imóveis: nem toda operação com imóveis é um investimento, mas neste capítulo vemos os ingredientes para que elas sejam, os riscos específicos e cuidados associados, a seleção de oportunidades, dicas para a maximização do rendimento.
  • No capítulo 11: estratégias com compra e venda. O popular "rolo" recebe atenção como forma de investimento também, com a advertência de que nem sempre ele funciona assim - a informalidade tem seus desafios, e às vezes o "investidor" não resiste à tentação de colocar para seu próprio uso o bem que planejaria negociar. Mesmo assim, exemplos bem-sucedidos são apresentados, incluindo a questão da atitude, as oportunidades com leilões e classificados, e a questão tributária.

O capítulo 12 fecha o livro com uma visão importante: a vida equilibrada. Não deixar as atividades de investidor interferirem negativamente na vida familiar, ter uma reserva para emergências facilmente acessível, usar a previdência privada para a sua finalidade básica (previdência), tratar com instituições e pessoas que mereçam a sua confiança, e vários outros toques de quem já tem experiência no assunto.

Para concluir

Quando o assunto é relacionado a finanças pessoais, múltiplos autores podem oferecer pontos de vista e informações diferentes, e é recomendável conhecer todos eles, até mesmo quando for para discordar.

Mas no caso de Gustavo Cerbasi, sabemos que no mínimo ele fala por experiência própria, pois no próprio livro descreve as opções que o levaram a atingir sua própria meta financeira (o mítico "primeiro milhão"), e deixa claros quais os momentos em que está falando de opinião pessoal, e não necessariamente de fato concreto.

Para fechar, voltando ao que já abordei na abertura, repito: li, gostei e recomendo.

CERBASI, Gustavo. Investimentos Inteligentes. Ed. Thomas Nelson, 2008. 274 páginas.

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