Guardar dinheiro em casa?
Guardar dinheiro ou objetos de elevado valor monetário em casa ou no escritório dificilmente é a sua melhor opção - seja pelo fator segurança, ou pelo fator rentabilidade. Mas o número de pessoas que optam, seja por qualquer motivo (inclusive a desconfiança no sistema financeiro), por ter em seu ambiente mais próximo alguma soma em dinheiro, títulos, certificados, jóias e outros itens de grande liquidez - e frequentemente ao portador justifica tratar sobre como fazê-lo, com a ressalva de que pode ser uma alternativa contra-indicada, e que há até mesmo implicações fiscais.
Se você guarda valores em casa, certamente tem preocupação com a possibilidade de que alguém não-autorizado tenha acesso a eles, e os subtraia, em um roubo, furto, sequestro-relâmpago ou outra ação do gênero. Dependendo da situação, há o risco ainda pior: o de o furto ser praticado por alguém com acesso legítimo ao ambiente, como visitantes, prestadores de serviços diversos, ou mesmo empregados.
Existem muitas dicas sobre como guardar discretamente os valores em casa, apelando para esconderijos inusitados - até mesmo um artigo anterior aqui do Efetividade.net já tratou do tema, explicando como criar um "cofre secreto" dentro de uma lista telefônica velha ou de uma garrafa cheia de 2L de refrigerante.
Existem muitas soluções que possivelmente despistariam boa parte dos ladrões "de oportunidade", que entram na sua casa com o objetivo de encontrar os valores e rapidamente sair em segurança, levando os objetos de valor que puder carregar. A tomada falsa é um exemplo clássico (e conhecido...), desde que ela não seja obviamente diferente das demais tomadas da casa. O relógio de parede/armário secreto se baseia no mesmo princípio: não parece ser algo de valor, e (espera-se) não será analisado mais detidamente - da mesma forma que os termômetros, luminárias, caixas de fusíveis e até falsas pedras que bastante gente usa para esconder no jardim uma chave de emergência para a sua casa, por exemplo.
Trata-se de uma medida baseada no princípio da "segurança pela obscuridade", que tem um calcanhar de aquiles muito significativo: só funciona enquanto o ladrão não souber de sua existência. Depois que ele souber, já era: basta ele ir lá e colher o conteúdo do "cofre secreto". E às vezes as idéias que o dono do segredo acha criativas, como esconder a chave-reserva na caixa do popular "relógio de luz", são segredos conhecidos por muitos - mesmo que não leiam o Efetividade.net... ;-)
Entra em cena o ladrão aposentado - com uma alternativa insuficiente
Para a possibilidade do roubo ou furto, não tenho solução a oferecer a quem opta por guardar valores em casa: muito já se tentou, e nenhuma alternativa conveniente, barata e com aplicação genérica se popularizou - mesmo cofres pesados já foram levados de residências, e existem maneiras eficazes de motivar quem estiver em casa no momento da ação a revelar ou audar a procurar os esconderijos secretos existentes.
Mas este post do SavingAdvice traz uma visão interessante, que deve ser analisada em conjunto com as outras existentes - e já me levou a afrouxar os parafusos do cofre vazio que tenho guardado em casa.
O autor entrevistou um "ladrão aposentado", que apresentou o seu ponto de vista sobre o funcionamento destas medidas furtivas. Para ele, quando um ladrão (profissional ou pé-de-chinelo) entra objetivamente em uma casa para furtar, ele assume a premissa de que lá há algo de valor, e irá procurar até encontrar, até cansar, ou até que sua segurança justifique a retirada antecipada.
Se você conhece alguém que retornou de uma viagem para encontrar a casa toda revirada, mobília quebrada, paredes e portas danificadas, pode perguntar: às vezes valeria mais a pena ter deixado algum objeto de valor menor em um local "pretensamente" secreto, como as gavetas da cômoda, para que o ladrão eventual encontre o engodo, chegue à conclusão errada de que aquilo é o maior tesouro da casa, pare de procurar e se mande.
E é isso que o ladrão aposentado do post acima recomenda, e foi por isso (pensando nos ladrões que não sejam leitores do Efetividade.net) que eu coloquei alguns papéis e um peso dentro do meu cofre vazio, afrouxei seus parafusos e escondi melhor a chave, e avisei sobre a localização dela a toda a família - na expectativa de que o eventual ladrão que invada a casa vazia leve logo o cofre "pesado e solto" e pare de procurar outros valores - inexistentes - na casa.
É o mesmo princípio das pessoas que usam duas carteiras - e eu conheço várias delas. A idéia é ter uma que vai sempre num bolso de fácil acesso, só com os documentos essenciais, dinheiro trocado e outros itens que façam pouca falta e sejam facilmente canceláveis ou substituíveis, enquanto a outra fica armazenada em segurança e segredo, só sendo acessada em momentos de necessidade. Trata-se de mais um modelo de segurança por obscuridade associada a um engodo: na hora do assalto, se a carteira "light" for entregue, é possível que o ladrão não prossiga na busca. Por outro lado, uma vez que o assaltante saiba ou suspeite da existência da segunda carteira, a ferramenta torna-se inútil, no melhor dos casos, e um fator adicional de risco, no pior.
Em resumo, passamos a trabalhar com a idéia de mitigar um risco mais amplo do que o simples furto do total de recursos armazenados, e para isso separamos de antemão uma quantia "do ladrão", significativa o suficiente para que ele se convença de que está levando tudo o que poderia.
A alternativa ideal?
Possivelmente você chegou até esta altura do texto com a mesma sensação que encontrei ao escrevê-lo: alternativas de segurança baseadas na redução da expectativa de perda potencial, que envolvem "separar um valor para o ladrão" são patéticas, embora sejam cada vez mais populares.
Mas a questão da segurança pública no Brasil é complexa, assim como são complexos os nossos sistemas financeiro e tributário. Tudo considerado, para meu próprio uso eu acredito que, se tivesse valores a guardar, recorreria a um banco sólido que me oferecesse os serviços que me interessassem. Por mais que eu aplicasse princípios de segurança residencial e escolhesse bem onde morar, guardar valores em casa teria riscos adicionais que eu não tenho recursos suficientes para evitar, que o seguro residencial não cobre, e nem me sinto seguro o suficiente ao apenas reduzi-los.
Não posso lhe oferecer uma solução genérica para este problema tão difícil, nem conheço o seu caso, portanto não posso lhe afirmar que a minha solução é a melhor para você. De qualquer forma, se você guarda valores em casa, espero que a opinião do "ladrão aposentado" mencionado acima leve à reflexão sobre o conjunto dos riscos associados, que não se restringem aos associados ao furto do valor em si - e para alguns dos riscos adicionais, especialmente em caso de assalto, invasão da residência ou sequestro-relâmpago, as alternativas acima nem mesmo oferecem grande conforto adicional...
Portanto, não apenas reflita sobre uma nova solução, mas também para os potenciais problemas da sua solução atual, se você for uma daquelas pessoas que guarda valores em casa, apesar de tudo.
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