Design para quem não é designer

Antes de prosseguir, um alerta: consultar um profissional do design gráfico geralmente é o melhor caminho para aumentar a chance de chegar a um cartaz, cartão, flyer, capa, layout de página, folder e tantos outros produtos gráficos que usamos no dia-a-dia.

Só que a fronteira entre o que é um trabalho de design profissional e a mera aplicação de técnicas de design ao nosso próprio trabalho pode ser tênue e subjetiva. Alguns exemplos de oportunidades de aplicação de elementos do design gráfico que ocorrem no dia-a-dia de quase todos nós são:

  • a disposição da capa de um relatório
  • a escolha dos tipos ou fontes dos títulos e corpo de texto de um trabalho
  • o cartaz no elevador avisando da reunião do condomínio
  • a mensagem de aniversário enviada por e-mail

entre tantas outras. Todos nós estamos expostos a decisões de design gráfico todos os dias, e embora sejamos dotados de algum bom senso, estética e ferramentas que até permitem um bom trabalho (na classe amadora, claro!), um pouco de método sempre ajuda.

As opções mais básicas que conduzem ao mínimo necessário em termos de resultado harmonioso e que comunica bem a sua mensagem são simples, fáceis de aprender e de memorizar.

Mesmo assim, todos os dias somos expostos (e às vezes até mesmo cometemos) cartazes e capas integralmente feitos em fonte tamanho 12pt, só maiúsculas, e 100% centralizadas - quando não são alinhadas aleatoriamente, cercadas por uma variedade de molduras e misturando várias fontes parecidas entre si.

Melhorando o mundo pelo design

Ninguém deveria ser obrigado a ver mais capas de relatório feitas em Times New Roman 12pt maiúsculas centralizadas - os últimos 20 anos de popularidade de processadores de texto já nos ofereceram quantidade suficiente disso.

Mas isso só mudará se aprendemos a entender o be-a-bá do design gráfico e empregarmos no que produzimos e expomos ao mundo. Quanto mais gente fizer isso, maior será a chance de os demais perceberem que há outras alternativas à Times além da Comic Sans!

Para mim, essa percepção veio a partir de uma leitura que, desde então, recomendo a todo colega de equipe que precisa produzir algum material gráfico de uso interno: o livro "Design para quem não é designer", que no momento em que escrevo pode ser encontrado por cerca de R$ 50 em livrarias on-line como Saraiva e Fnac.

Li esta obra pela primeira vez na virada do século, e desde então já comprei pelo menos 7 exemplares, sendo 3 para mim mesmo (acabo emprestando, e não voltam, cumprindo assim sua missão!) e os outros para dar de presente. Recentemente comprei também a edição em inglês em formato ebook, e agora ele não some mais ;-)

Design para quem não é designer

A autora, Robin Williams, escreveu várias outras obras voltadas a difundir entre nós, amadores, os conceitos essenciais do design. Na minha opinião, o "Design para quem não é designer" é o essencial entre eles, sendo que os demais são especializações do conceito, tratando mais aprofundadamente sobre tipos, sobre apresentações, sobre web e mais.

No exemplar em português que tenho em mãos, identificado como "2a edição revista e ampliada" (2008), o tema é tratado em 194 páginas. Sei que há edições mais recentes, incluindo uma já transposta para a nova ortografia do nosso idioma, e me parece que a "terceira edição" do Brasil foi construída a partir da segunda edição do original dos EUA (onde já há uma terceira edição), portanto quem lê também em inglês deve pesquisar bem as suas alternativas.

O livro é de leitura facílima, muito bem ilustrado (geralmente com exemplos de aplicação profissional das técnicas do design gráfico), e apresenta basicamente 5 grandes temas, cada um deles explicado quanto ao seu conceito, funcionamento e objetivo de seu uso.

Conhece a definição sherlockiana sobre o conceito de óbvio? Depois de apresentado e explicado, tudo é óbvio. Este é um livro que trata sobre o que é imediatamente óbvio assim que explicado, mas que muitas vezes temos dificuldade de aplicar ao nosso trabalho por não termos jamais parado para identificar este pequeno conjunto de técnicas.

Claro que não posso detalhar os 5 temas por aqui (inclusive porque não sou designer), mas certamente posso listá-los e descrevê-los brevemente, sem o universo de dicas nem a variação de exemplos trazidos pela autora. São eles: proximidade, alinhamento, repetição, contraste e tipologia.

1. Proximidade

Itens relacionados entre si devem estar próximos. Itens ou grupos não relacionados devem estar separados.

Note que no exemplo à esquerda 100% das informações foram colocadas em um único grupo - dá trabalho até para tentar identificar quantos serão os concertos!

2. Alinhamento

Nada deve ser colocado arbitrariamente em uma página. Cada item deve ter uma conexão visual (por linhas precisas, mas geralmente imaginárias) com algum outro elemento da página.

Por que se limitar ao centralizado?

Nos primeiros anos dos processadores de texto, o alinhamento centralizado floresceu inclusive porque as pessoas estavam acostumadas à relativa dificuldade de obter o mesmo efeito com máquinas de escrever, e se maravilhavam com a possibilidade de centralizar com o mero toque de um botão. Mas esse tempo já passou, e há tantas outras formas de alinhar!

Claro que a falta de imaginação não é a única fonte de problemas com alinhamento: a falta de percepção sobre as possibilidades de alinhamento também é um problema comum. Veja os exemplos acima: no segundo, apesar de os elementos terem tamanhos diferentes, todos eles (título, texto e as 3 caixas) estão alinhados uns aos outros, o que muda completamente não só a estética como também a comunicação.

3. Repetição

Algum aspecto do design deve se repetir no material inteiro, e nos conjuntos de materiais associados entre si. O uso de um negrito, um fio (linha) grosso, um elemento de design, em suma algo que dê a ideia de consistência quando o leitor reconhecer visualmente.

Quando se trata de um único documento, isso é evidenciado usando sempre a mesma fornte para os títulos, ou por um rodapé padronizado para as páginas, por exemplo.

Quando se trata de um conjunto de materiais, a presença de um elemento que possa ser reconhecido ao longo de cada uma das peças é que dá essa ideia de consistência e facilita a identificação - compare o cartaz acima com os modelos de papel timbrado de uma mercearia usados anteriormente como exemplo de alinhamento para identificar!

4. Contraste

Se dois itens não forem exatamente análogos, diferencie-os completamente. Itens parecidos (quanto ao tipo, tamanho, peso, posição, etc.) geram conflito. Contraste é quando eles são completamente diferentes.

O contraste pode ser alcançado de várias formas: tamanho das letras, fios grossos e finos, cores quentes e frias, horizontal x vertical e mais.

No exemplo acima, há contraste de fontes, bem como entre o título horizontal longo e as colunas curtas, por exemplo.

5. Tipologia

Ao longo de vários capítulos, esta parte (descrita pela autora como "a segunda metade") do livro apresenta os conceitos básicos sobre o uso consciente das fontes, incluindo as dicas essencias sobre contraste de tipos: tamanho, peso, estrutura, forma, direção e cor.

O que mais?

O capítulo mais interessante do livro está escondido, discretamente, entre o capítulo que trata do contraste e o início dos capítulos sobre tipologia - porque depende do entendimento sobre os princípios básicos, no mínimo para permitir o uso dos termos adequados.

Trata-se de uma lista de dicas e truques específicos para:

  • cartões de visita
  • papeis de carta, timbrados e envelopes
  • folhetos em geral
  • boletins e newsletters
  • folders
  • postais
  • anúncios de jornais

Claro que, para boa parte dessas aplicações, consultar um profissional pode ser a melhor solução. Mesmo assim há valor em conhecer o básico a respeito - no mínimo vai melhorar a comunicação entre você e o prestador de serviço.

Além disso, há uma série de exercícios (com respostas ao final do livro), capítulos de revisão e outros recursos para facilitar o aprendizado se você fizer como eu e ler do início ao fim.

Depois de ler, o livro vira um excelente guia de consulta e referência sobre os elementos mais básicos do design gráfico - mas só o empreste se tiver garantias ou se não se importar quando livros emprestados não voltam, porque este é o tipo de livro útil que, quando emprestado, acaba sendo emprestado andiante ou incorporado à biblioteca de referência de quem o recebeu ;-)

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