Apartamentos pequenos: manual do usuário
Apartamento pequeno é um assunto sempre em voga, até porque aqueles imóveis espaçosos dos prédios de décadas passadas se transformam cada vez mais em exceções. O leitor @NarradorWW, após ver o post recente sobre homeoffice em apartamentos pequenos, pediu um post específico sobre o tema apartamentos pequenos, e assim voltamos à questão!
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É o quarto? A copa? Ou a cozinha?
A "classe média apertada" é uma realidade cada vez mais comum - estudantes solteiros, grupos de amigos, pequenas e médias famílias, cada vez mais gente vive em espaços que vão se tornando mais restritos, e às vezes o apartamento do neto cabe inteiro dentro da área social do apartamento da avó...
Algumas pessoas gostam e preferem os espaços pequenos, enquanto para outras isso é uma escolha imposta, ou mesmo um compromisso entre a realidade desejada e a possível no momento.
Mas as opções de organização e decoração de apartamentos pequenos disponíveis permitem ter conforto, e com um pouco de planejamento (evitando alguns erros comuns) seus habitantes podem garantir a adaptação que permita maximizar o conforto possível.
Mas escrever sobre como melhor se adaptar a um apartamento pequeno é um desafio quase tão grande quanto falar sobre técnicas alternativas de churrasco: como a realidade de cada interessado é bem diferente e única, é preciso ter em mente desde o princípio que sempre vai haver alguém que refutará as sugestões, chamará de impossíveis, etc.
O apartamento do neto hoje pode ser menor que a área de jantar da casa da avó...
E a causa do fenômeno é fácil de entender: a definição de "apartamento pequeno" é difusa. Há quem more em 30m2 e acharia um luxo morar em um apartamento de 50m2, assim como há quem more com família e cachorro em apartamento de 60m2 e ache - com razão - minúsculo. Da mesma forma, lidamos com situações variadas:
- há quem pode furar as paredes, e também há quem não pode;
- há quem precise se conformar em ter a cama servindo como sofá,
- a cozinha no mesmo ambiente do quarto é uma realidade para muitos;
- substituir as portas ou a mobília pode ser um sonho contratualmente impossível.
E assim por diante. Portanto, fica desde já o aviso: escrevo com base em uma realidade que conheci e vivi por bastante tempo (durante a graduação) - um condomínio enorme, ao lado da universidade, projetado para estudantes que não podem pagar aluguel alto, com paredes fininhas, conforto mínimo e aperto máximo. Mas era bom - tinha até parede separando o espaço da "sala", da "cozinha" e do "quarto".
E na época a minha experiência ficou melhor com algumas das dicas abaixo - poderia ter melhorado mais ainda, se eu tivesse possibilidade, interesse ou disposição de aplicar as restantes - mas faltava orçamento, permissão e perspectiva de longo prazo, pois eu não pretendia ficar lá mais do que o tempo necessário.
E vamos desde já combinar que as dicas de vocês, adequadas à situação que vocês conhecem e vivenciam, serão muito bem-vindas nos comentários, ok?
Começando pelo que NÃO fazer
Dois erros comuns, se cometidos, são difíceis de reverter sem prejuízo:
1. Menos é mais: Na hora da mudança para um apartamento pequeno, resista à tentação de "fazer caber" toda a mobília, os ambientes, as louças, as roupas, os livros, os DVDs ou os recursos de que você dispunha em um ambiente anterior. É possível até que tudo caiba, mas o excesso de itens em um espaço menor vai dar sensação de aperto, vai atrapalhar o uso e cedo ou tarde vai levar à necessidade de replanejar e reorganizar o espaço, descartando os itens cujo uso se provou impossível.
Não comece com um objetivo errado que o condenará ao aperto. Ao invés disso, planeje antes, e descarte (ou reaproveite em outro lugar, reuse, recicle, doe ou venda) os itens que não vão se adequar ao novo espaço, e aí nem os leve. Fazer uma lista de todos os itens candidatos a descarte e deixar todos os familiares colocarem em ordem (do mais desejado ao menos necessário) do quanto gostariam que ele fosse levado ao novo apartamento pode ajudar a tomar as decisões.
Deixe isso para o camping...
2. Lugar de mobília em miniatura é no camping: Ao planejar a ocupação de espaço, resista à tentação de coisas que podem parecer uma grande ideia na loja mas não servem para a prática do dia-a-dia: mesas em que não cabem ao mesmo tempo os pratos e as travessas, fogões minúsculos, geladeiras e outros eletrodomésticos em proporções absurdas, etc.
Se for um produto que você testou, conhece, já experimentou e viu que serve, considere sem medo. Mas a mera sensação de "se eu colocar esse fogão a gás de uma boca só e com forno reduzido conjugado com geladeira de 30 litros, vai sobrar espaço pra pendurar também o meu violoncelo atrás da pia" não deve levar a decisões de compra das quais você vai se arrepender em todas as refeições futuras.
A dica fundamental: projeto, orçamento, cronograma e qualidade
Roma não foi construída em um dia, e raras pessoas tem a felicidade de contar com bolsos fundos o suficiente para deixar um novo apartamento exatamente do jeito que desejam já no momento da mudança.
O importante é não fazer disso um motivo para aceitar se mudar "de qualquer jeito", ou fazer investimentos impensados limitados pela disponibilidade de caixa no momento da mudança.
O ideal é ter um projeto pensado a médio prazo, adquirindo inicialmente apenas o mínimo necessário para a mudança, e ir complementando com os itens planejados ao longo dos meses, considerando o orçamento disponível.
Isso exige uma adaptação especial no começo, mas equivale a não condenar a si mesmo a continuar vivendo indefinidamente em um apartamento que foi montado de maneira limitada devido a se priorizar apenas a questão do tempo.
A dica essencial vem da disciplina Gerenciamento de Projetos: a chamada Tripla Restrição, em que na prática devemos equilibrar 4 fatores que interferem uns nos outros: escopo (ou seja, a definição do que se deseja fazer), prazo, custo e qualidade. Concentrar-se apenas em um deles (tipicamente no prazo, ou no custo) leva os demais a perderem o controle.
Apartamento pequeno: 10 dicas práticas
- Troque funcionalidades desnecessárias pelas que você usa: morei bastante tempo em um apartamento projetado para estudantes, em que o espaço era mínimo, e ainda por cima era mal dividido. Mas eu tinha um espaço confortável para usar como sala de TV e escritório (desrespeitando, por impossibilidade prática, a regra de separar entretenimento e home office), escrivaninha, armário, sofá e duas poltronas até grandes. O segredo? Reconheci cedo o suficiente que não precisaria de uma mesa de refeições para ser feliz, e abri mão de poder receber pessoas para jantar em casa, a não ser que fossem comer no sofá.
Iluminação, disposição, uso das paredes - tudo pode ser usado a seu favor.Hoje, acostumado a preparar e fazer refeições em casa, tudo seria diferente, mas naquele tempo a realidade de estudante me permitiu fazer esta escolha. Outras pessoas podem descobrir que não precisam ter microondas e forno elétrico, máquina de lavar, poltronas adicionais, 4 cadeiras na mesa de refeições, rack para o aparelho de som, violão, e assim por diante. Não é porque estes objetos já estão lá ocupando o seu espaço que eles deverão ser mantidos indefinidamente - se o ato de livrar-se deles for aumentar a sua qualidade de vida, desapegue!
- Menos mobília - mas não minúscula: O ideal é usar menos móveis, mas em tamanho normal (sem exageros, claro!). Um sofá apertado e 3 poltroninhas empilháveis geram sofrimento diário – melhor ter um sofá confortável (não escolha um modelo com braços muito largos!), e um plano para alojar visitantes adicionais na cadeira do computador e nas banquetas da mesa de refeições ;-) Mas sempre meça bem antes de comprar, para não ficar com um trambolho que não cabe direito e toma espaço de outras utilidades.
- Mobília multifuncional: Quem escolhe aqueles pequenos móveis que mais parecem apropriados a uma barraca de camping muitas vezes acaba se arrependendo - são frágeis, muitas vezes seu uso exige montar e desmontar, e mesmo desmontados eles ocupam precioso espaço. Como já vimos, o ideal é ter menos, e com qualidade - mas se você puder acrescentar o componente da multifuncionalidade, melhor ainda. Assim, a sua mesa de centro servirá também como baú para guardar louças, a cama terá gaveteiro, a escrivaninha terá estante para os livros de estudo, o sofá servirá como cama de hóspedes, a máquina de lavar também será secadora e assim por diante.
- Salve a cozinha: minha experiência com a cozinha de um apartamento pequeno foi péssima: a exaustão era complicada (fritura em casa, nem pensar), e o espaço era apertadíssimo - o microondas ia em cima da geladeira, contra todas as recomendações, a pia era apenas uma cuba, sem espaço para um escorredor, havia apenas 2 gavetas e um paneleiro mínimo, com porta única, e um fogão de 4 bocas. Meus compromissos na época exigiam almoçar e jantar na rua, mas eu sentia a dificuldade nos finais de semana...
Cada caso é um caso, mas um suporte de parede como o da foto acima teria me adiantado muito. Até mesmo um escorredor simples de parede já ajudaria. Ou tirar a porta convencional da cozinha, que ocupava muito espaço (ou substituí-la por uma porta de correr, ou sanfonada), e assim ter condições de ter um armário vertical. Mas lembre-se: só faça alterações para as quais você tenha permissão, e antes de deixar o profissional escolhido furar paredes em que possam passar canos ou fiação, consulte a planta!
- Subindo pelas paredes: se o apartamento for seu, ou se você tiver permissão para furar, faça um bom projeto de uso das paredes e chame um profissional para colocá-lo em prática (dê a ele a planta elétrica e hidráulica para evitar acidentes!). Dependendo do caso, você pode fixar a TV e o som em uma parede, "economizando" o espaço do rack; pode colocar prateleiras ao longo de diversas paredes e corredores, altas o bastante para não bater com a cabeça nelas, mas baixas o suficiente para alcançar o conteúdo delas sem ter de subir no banquinho ("economizando" o espaço de armários e estantes) e assim por diante. Planeje cores e posicionamento para não errar na mão, evitando que isso faça o espaço parecer menor.
Ao fixar, você abre mão de flexibilidade, mas ganha muito em espaço útil, e também na sensação de espaço que a área livre no nível do chão proporciona. E se houver algum vão ou nicho (no corredor, em algum canto ao lado de coluna, etc.), fique ligado - pode ser sua oportunidade de fazer um armário embutido que não rouba espaço útil!
- E o escritório? É perfeitamente possível ter um home office em um apartamento pequeno, embora possa exigir abrir mão de mais coisas do que quando há mais espaço para ele. Já tratamos do assunto antes, por isso recomendo os artigos "Home office: fazendo caber em apartamentos pequenos" e "Homeoffice no quarto, com uma escrivaninha e um balcão: para apartamentos pequenos".
- Acessórios inteligentes: a boa notícia é que, como há cada vez mais gente vivendo em apartamentos pequenos, o comércio está cheio de opções voltadas a este contingente. A má notícia é que nem todas elas são de boa qualidade, e mesmo as que são não necessariamente servem para você. Mas quando o espaço é um fator limitante, a qualidade dos acessórios (de cama, mesa, aparelhos, etc.) faz diferença considerável na qualidade de vida. Para as utilidades, visite um hipermercado ou uma loja especializada (eu gosto de fazer uma expedição a algum atacadão como a rede Leroy Merlin para isso), e para o restante vá escolhendo aos poucos o que se adequar ao seu estilo de vida.
- Considere a vida sem papel e sem discos: Muito do espaço ocupado nos lares modernos é pelo que hoje se convencionou chamar de "conteúdo": livros, coleções de revistas, música em CDs, filmes em DVDs, arquivos de documentos, etc. Alguns deles são absolutamente necessários ou valiosos e devem ser levados ao novo endereço, mas para outros já há alternativas de digitalização ou mera transferência para meios de armazenamento mais eficientes que você pode considerar. Mas leve em conta também os aspectos jurídicos e da segurança dos dados!
- Iluminação e cores: privilegie a luz natural sempre que possível, e capriche também em uma boa iluminação artificial. A luz pode fazer o espaço parecer maior, além de mais vivo. Um espelho bem colocado também pode fazer mágicas. Jogar com as cores também ajuda - consulte alguém da área da decoração e interiores, mas já adianto que é comum dizer que um esquema de cores em que o piso é mais escuro, as paredes são mais claras e o teto é bem mais claro dá a sensação de que o espaço é maior. A cor da mobília também pode ser importante, jogando bem com o contraste em relação às paredes, ou mesmo procurando uma cor parecida com as delas, você pode obter a impressão desejada - mas para tirar a dúvida, recorra a um profissional ;-)
- Decoração funcional: além das dicas de pintura mencionadas acima, consulte alguém versado nas artes e técnicas do design de interiores para ver como decorar para tornar o espaço mais vivo sem ocupar muito espaço nem dar a impressão de que o ambiente está "lotado". Espelhos - como o da foto acima, por exemplo - são a dica mais frequente para dar a impressão de espaço ampliado (e funciona mesmo - você acha que os espelhos nos elevadores estão lá só para dar oportunidade para o pessoal conferir seu visual?), e peças verticais, como abajures ou mesmo pôsteres, podem ser colocadas parcimoniosamente para ajudar a compor.
Leia também as minhas outras dicas em "Usabilidade em casa: 7 dicas para mais efetividade na sua organização doméstica".
Agora é a sua vez. Você mora ou morou em um apartamento pequeno e tem dicas sobre como sobreviver melhor neles? Compartilhe conosco!
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