Seu chefe é do tipo controlador? Sofra menos: identifique as reais prioridades dele.

Reduza o stress causado por um chefe centralizador e que gosta de microgerenciar a equipe: ignore o discurso, analise o comportamento, descubra a que estímulos ele responde, e use-os a seu favor.

Todo mundo conhece esse perfil: o chefe que centraliza tudo e, quando transfere uma tarefa, não a delega realmente: quer definir cada passo da execução e interferir em cada decisão tomada, embora geralmente o faça com informações insuficientes, porque está tomando decisões operacionais sem participar diretamente da operação.

Esse tipo de microgerenciamento é uma disfunção de liderança que reduz a produtividade e eleva o nível de stress de todos os envolvidos, porque a pessoa que está pressionando para avançar é a mesma que está impedindo o avanço, porque quer que outra pessoa martele, mas continua fazendo questão de marcar o ponto na parede e de segurar o prego – e exige fazê-lo de acordo com a sua própria agenda, lotada de outros compromissos que também poderiam ter sido delegados.

Trabalhar de uma forma saudável estando em uma relação de chefia que não é sadia é um desafio que pode ser inalcançável, mas existe algo que você pode fazer para sofrer bem menos: identificar claramente quais são as reais prioridades do seu chefe, e buscar ficar visivelmente alinhado a elas, ao mesmo tempo em que toma as providências necessárias para que seu trabalho avance.

Após descobrir o que realmente move o seu chefe, fica mais fácil avançar sem ser freado por ele a cada passo.

Microgerenciar não é um estilo de gestão, e sim uma resposta que o gestor em questão encontra para lidar com os seus próprios problemas, que podem ser:

  • insegurança
  • indecisão
  • sobrecarga
  • desejo de ser visto como o único responsável pelos sucessos
  • medo de errar
  • medo de se comprometer
  • medo de que sua inadequação ao cargo seja exposta
  • subserviência a algum gestor superior a ele
  • etc., etc.

Uma parte disso pode ser comportamento similar ao dos gestores psicopatas, mas existe grande margem para você interpretar esses comportamentos como a simples resposta inadequada do gestor aos desafios de administrar e liderar.

Uma alternativa é ir tentar dar um jeito de encontrar um lugar para trabalhar com um gestor melhor preparado. Mas se mudar de trabalho ou área não estiver ao seu alcance no momento, o que você pode fazer para mitigar o stress da sua própria situação é começar a prestar atenção ativa às formas como o gestor se intromete na execução das tarefas que passa a você e aos colegas, para identificar o que há em comum entre elas.

Percebendo de que maneiras ele modifica, interfere, refreia ou mesmo transfere novamente para si (ou para outra pessoa ou área) os projetos, você poderá concluir objetivamente sobre qual é o interesse ou medo que de fato o move, muito mais do que poderia inferir a partir dos seus discursos, justificativas e explicações.

Descubra quais são os botões de controle, e use essa informação a favor da qualidade do seu trabalho e do seu ambiente.

Depois de identificar quais são as cordas que movem esse mau gestor, ou os pontos sensíveis na couraça dele que o fazem reagir, o próximo passo é natural: considere esses aspectos nas suas decisões táticas e operacionais, ao mesmo tempo em que produz um efeito visível de alinhamento ao que ele usualmente prega, e naturalmente o chefe microgerenciador vai passar a interferir menos na execução do que couber a você.

Em um artigo na Forbes, Simon North listou algumas formas de considerar os pontos de sensibilidade do chefe sem confrontá-lo, incluindo:

  • Antecipar as demandas, que para você se tornarão cada vez mais previsíveis.
  • Não usar as formas de execução que, mesmo corretas, fazem com que o trabalho seja sistematicamente rejeitado ou desvalorizado por ele.
  • Evitar interações nos horários ou dias do mês em que ele fica especialmente inapto.
  • etc., etc.

Aí é só aproveitar melhor a rotina com um pouco menos de stress, e torcer (ou melhor ainda: contribuir) para que a inaptidão desse chefe logo seja percebida por quem pode reposicioná-lo.

Aproveite positivamente a influência que você pode vir a conquistar: dê feedback ao chefe, e motive a equipe.

Ao contrário do que acontece no caso dos psicopatas organizacionais, é possível que você possa dar feedback negativo a esse tipo de gestor, aproveitando algum momento em que ele venha a reconhecer os resultados dos seus esforços.

Faça isso quando estiver sozinho com ele, aos poucos, e adotando a velha prática de começar elogiando a parte do processo de trabalho dele que ele vê como diferencial positivo. Evite o confronto, mas deixe ele saber, por exemplo, que você acredita que poderia ser mais produtivo se não tivesse que ficar explicando cada passo, e que os acertos anteriores poderiam servir como fiadores para um pouco mais de liberdade de ação futura.

Além disso, é provável que você não seja o único a sofrer com o microgerenciamento desse mau gestor. Use seu exemplo para inspirar outros e, em conjunto, tentar reduzir o stress e as condições de trabalho que atrapalham a todos.

Mas fique atento a 2 riscos adicionais nos quais as manobras acima pode ter efeitos desastrosos:

  • Ser sobrecarregado de tarefas, caso o gestor acabe identificando você como "o único que sabe fazer as coisas nessa equipe".
  • Ser identificado como uma ameaça, caso o comportamento desse gestor seja movido pelo medo de que algum subordinado competente consiga "mostrar serviço" e acabe tomando seu lugar.

Afinal, para quem microgerencia por desejo de poder, todo exemplo de liderança que surge na equipe é visto como conspiração e termina rapidamente como uma tarefa extra para o setor de Pessoal...

Assim, a dica final é: faça um teste de realidade periodicamente, analisando se o comportamento do seu chefe não está interferindo negativamente na sua própria capacidade, no seu desempenho, e nas suas opções futuras de carreira. Se estiver, comece a procurar outras alternativas imediatamente, antes de entrar para a lista das vítimas.

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