Escritório em Casa não é Central de Entretenimento!

Todos nós conhecemos, e muitos invejamos, os ambientes de trabalho montados pelas grandes empresas de tecnologia, que para estimular a criatividade e a motivação dos seus funcionários envolvidos no desenvolvimento de produtos e oportunidades, oferecem confortos impensáveis em muitos outros ambientes de trabalho.

Nas reportagens sobre os centros de desenvolvimento do Google, ou da Microsoft, vemos videogames, mesas de ping-pong, sucos, ginástica e tantas outras atividades, que aparentemente funcionam tanto para reduzir o desgaste das pessoas quanto para estimular sua produção e mantê-las no emprego.

Mas será que o mesmo tipo de solução funciona quando trabalhamos em um home office auto-administrado? Eu acredito que não totalmente, mas que há possibilidade de soluções intermediárias. Explicarei os principais motivos a seguir, por etapas.

  1. A dificuldade de afastar outros interessados: raramente a atividade desempenhada em um home office pode funcionar bem em um ambiente em que outras pessoas estão presentes e usufruindo deste tipo de conforto. Por esta razão, é comum ver a dúvida de quem monta seu escritório na sala da família e não sabe como lidar com o interesse de outros familiares em usar o mesmo espaço (ou a TV, ou o computador, etc.) para lazer ou estudos no mesmo horário. Raramente há uma solução que deixe todo mundo satisfeito, neste caso, e se você investir no potencial de entretenimento de seu home office, o desafio só aumenta.
  2. A ausência do controle pela expectativa dos colegas: a consciência da necessidade de ser produtivo é algo que todos temos em algum grau (e nossos clientes ou chefes exercem externamente sobre nós, também), mas a "pressão dos pares", ou a mera percepção da expectativa dos colegas, acaba sendo uma grande ajuda extra para que os profissionais em um ambiente favorável como estes não acabem passando a tarde inteira jogando Wii Sports. Em um ambiente isolado como um home office, a tendência natural de procrastinar, deixando os prazos correrem, pode ser uma grande aliada do funcionamento inverso destes "incentivos", e aí não haverá pressão externa que nos ajude a perceber que estamos enganando a nós mesmos e aos nossos clientes.
     


    Não é preciso muita estrutura para ser produtivo - basta evitar as armadilhas e ter o essencial

     

  3. A importância dos mecanismos internos de incentivo: se você trabalha por conta própria, ou se usa o escritório doméstico para atividades não-profissionais (como escrever uma dissertação de mestrado, ou estudar para um concurso), não deve esquecer da riqueza motivacional representada por mecanismos internos de incentivo, na forma de uma recompensa auto-concedida ao cumprir determinadas metas ou completar desafios. Para muitos profissionais, isso se traduz em permitir a si mesmo brincar meia hora com os filhos, descer para um passeio, ligar a TV ou jogar uma partida de videogame - atividades que não seriam grande recompensa se pudessem ser desfrutadas a qualquer momento durante o expediente, sem falar no efeito negativo sobre a produtividade já abordado acima.
  4. Por falar nos filhos... Quando há crianças na casa em que está instalado o home office, o desafio das interrupções e da produtividade fica muito maior. Para elas, a própria presença dos adultos trabalhando, e dos seus instrumentos de trabalho (material de escritório, canetas, computador) já é atrativa o suficiente, mas a presença de outras formas de entretenimento (videogame, TV e outros "brinquedos") no mesmo ambiente torna a situação ainda mais inadministrável (veja também: "Home office: a convivência da família com o escritório doméstico")

Talvez os 4 motivos acima pudessem ser sintetizados assim: "evitar as interrupções e a tendência a procrastinar já é difícil o suficiente sem estas iscas adicionais"! Mas se disséssemos desta maneira, deixaríamos de poder explicitar que muitos de nós optaram por viabilizar alguma maneira de trabalhar em um home office justamente para poder se dar ao luxo de escolher aceitar algumas interrupções familiares e algumas oportunidades bem selecionadas de deixar o trabalho para depois.

E "se dar ao luxo" é uma expressão que vem mesmo a calhar, pois todas estas considerações só fazem sentido para quem pode se dar ao luxo de ter um ambiente à parte para seu home office. Quem precisa se contentar em trabalhar na mesma sala em que as crianças brincam ou os colegas assistem TV já sabe que sua escolha é se adaptar, ou encontrar regras de separação cuja implementação é custosa e frágil.

A minha solução

Tenho a felicidade de contar, desde 2008, com um escritório doméstico fisicamente separado do restante da casa - é um cômodo à parte, mobiliado de forma planejada para isso, e que assim acaba propiciando o grau adequado de separação, sem impedir o contato familiar.

Mesmo assim, as horas que disponho para fazer andar minhas iniciativas pessoais no home office são relativamente escassas, e certamente competem com o meu interesse no convívio familiar e até mesmo com as opções de entretenimento doméstico, das quais várias certamente teriam lugar para caber no espaço do escritório.


Escrivaninha do meu home office, em foto tirada logo após a mudança - qualquer dia destes eu detalho melhor as soluções que adotei

Embora eu tenha uma TV no escritório, e geralmente a use para assistir noticiário, há bastante tempo resisto a conectar a ela algum videogame, brinquedo que reservo para a sala, onde pode ser usado por mais pessoas e deixa de ficar permanentemente ao meu alcance, reduzindo assim seu potencial de interromper meu trabalho "só para uma partidinha".

Já tive um sofá no escritório, e também era um grande desafio, pois eu recorria a ele na hora em que precisava parar para pensar em algo, e muitas vezes terminava de uma forma menos produtiva, com uma soneca não-planejada. Em uma das mudanças de endereço, acabei trocando por uma poltrona confortável (mas onde não dá para deitar), e passou a funcionar melhor.

Para completar, sei que o escritório doméstico, por sua necessidade de se manter em condições de operação, é a solução a que toda a família recorre na hora em que alguém não encontra a fita adesiva, a tesoura, o marca-texto ou um cartucho de impressão. Isso é algo que se resolve agindo externamente, garantindo que os estoques e almoxarifados da casa estejam bem supridos e controlados sempre, e assim ninguém precise recorrer ao material de expediente já lotado no escritório ;-)

E a sua solução

A minha solução tem diversas peculiaridades: trabalho no home office só em tempo parcial, a atividade é por conta própria, o retorno permite investir em mobília apropriada, eu dispunha de espaço para dedicar um cômodo exclusivamente a esta finalidade, em casa não há crianças, etc.

A sua precisa ser adaptada à sua circunstância, e a consciência de como ela pode vir a melhorar pode ser um incentivo a mais para que parte do produto gerado pelo trabalho no home office seja reinvestida nele mesmo.

Mas se hoje você estiver se sentindo improdutivo no home office pela presença frequente de outras pessoas no mesmo ambiente devido ao seu potencial de entretenimento, ou mesmo pela tentação constante das opções de entretenimento presentes, talvez seja o caso de repensar a situação com alguma urgência. Medidas para regular a maneira como outras pessoas circulam pelo ambiente podem ser custosas para o relacionamento, assim como medidas para refrear a sua própria indisciplina são difíceis de implementar, mas nada disso é razão para que elas não sejam estudadas e avaliadas!

Leia também:

Tendência ao consumismo? Um fluxograma para ajudar a frear o impulso da compra

Quem compra mais do que pode pagar geralmente acaba se arrependendo, ou aproveita seus recursos bem menos do que poderia se programasse melhor o uso do seu orçamento.

E quando a pessoa junta isso ao hábito de comprar o que não precisa, às vezes triplica a frustração, porque:

  1. lembra tarde demais que este excesso vai pesar no orçamento;
  2. o produto não era necessário; e
  3. a compra não vai resolver a carência ou necessidade que gerou o impulso.

Quando se trata de uma compulsão, pode ser realmente difícil de controlar sem ajuda profissional. Mas se o comportamento for controlável, e mesmo assim você frequentemente se perceber insatisfeito por ter comprado o que não precisava, com o dinheiro (ou crédito) que não podia gastar com isso, você pode estar precisando colocar em prática algum processo de decisão de compra que o ajude a... tornar efetivo o bom senso - afinal, você já sabe que tem a tendência a comprar mal, só precisa dar um jeito de lembrar disso a cada nova compra.

Antes de prosseguir, é bom definir algumas premissas:

  1. Só pode funcionar se você quiser - e isso não significa que basta querer. Mas se você não quiser mudar o seu hábito, as técnicas não funcionarão. Como na maioria dos métodos de reforma de algum comportamento compulsivo, os passos iniciais envolvem admitir que se tem um problema e assumir que é possível mudá-lo.
  2. Os níveis variam de acordo com as circunstâncias - para algumas pessoas, as compras excessivas que chegam a pesar no orçamento são de preciosos objetos de luxo, para outras são de calçados e bolsas, outras gastam demais com artes e tecnologia, e há quem nem possa comprar os itens de primeira necessidade e tenha o sonho de um dia poder dispor de um orçamento a ponto de poder se preocupar com a possibilidade de gastá-lo mal... Não é porque outras pessoas estão em situações diferenciadas que o seu próprio problema pessoal muda.
  3. Nem toda compra por impulso é má: o que é sempre ruim é desenvolver o hábito de comprar por impulso e sem controle. Mas a compra por impulso eventual (preferencialmente rara), bem dentro da margem de segurança do seu orçamento, e associada a um produto que modifique para melhor a sua vida pode ser um pecadilho bastante aceitável. Este artigo não tenta formar pessoas que só compram racionalmente - o objetivo está muito mais próximo da idéia de tentar dar a todos que disponham de algum orçamento a condição de eventualmente poder fazer uma compra por impulso se preocupando menos com a possibilidade de o orçamento estourar, e ainda ter uma sobra orçamentária para aplicar melhor.
  4. Definir as compras "necessárias" é com você - este texto não faz juízo sobre a qualidade dos seus gastos e investimentos. O supérfluo de um pode ser o essencial do seu vizinho, e é difícil assumir uma regra geral sobre quais são os gastos que são "válidos" e quais não são. Vamos apresentar a seguir algumas perguntas que podem ajudar a filtrar os gastos, mas a resposta depende de você, e não precisa ser igual à do seu vizinho.

O processo de avaliação prévia de uma compra

Como vimos acima, na premissa 1, estamos aqui tratando do que se convenciona chamar de bom senso - conceitos que deveriam ser óbvios e facilmente visíveis, mas que a mente de muitas pessoas parece suspender ou bloquear quando se depara com determinadas possibilidades de compra - por impulso ou por hábito.

Definir o óbvio ou o que o bom senso dita é complicado, até mesmo porque não se trata de conceitos objetivos - "o óbvio" daqui de casa pode ser diferente do "óbvio" da sua família. Mesmo assim, April Dykman, do blog de finanças pessoais Get Rich Slowly, tentou mesmo assim, e chegou a um processo baseado em 3 conceitos principais que devem ser avaliados a cada compra.

E é este processo que vamos descrever agora, começando pelos 3 conceitos essenciais definidos, que devem ser considerados subjetivamente para as finalidades deste método:

  1. A "necessidade da compra": Quando uma compra ou contratação de serviço não é de primeira necessidade (ver premissa 4, acima), ela pode mesmo assim ser justificada, seja pelo nível de benefício que irá causar, por um problema que irá evitar, pela elevação do nível de conforto, ou pelos critérios que fizerem sentido no seu contexto. Classificar necessidades é complicado, mas um conceito geral bastante conhecido, se você quiser saber mais, é o da hierarqui das necessidades, de Maslow.
  2. A "possibilidade de pagar": Cada pessoa tem sua própria realidade de disponibilidades e créditos. Se para uma pessoa a necessidade de consultar antes o extrato do banco surge na hora de comprar uma camisa nova, outra liga para o assistente financeiro só na hora de comprar um jet ski ou um imóvel, e várias outras têm dúvida se vão conseguir manter o armário de comida bem suprido até o fim da semana.
  3. A existência de alternativas: Procurar por produtos alternativos ou substitutos, mais econômicos e com qualidade aceitável (no sentido de "adequação ao uso" - veja mais em "O que é qualidade"), é um exercício de pesquisa de mercado que ajuda a fazer melhores compras, mas também permite que você ganhe tempo suficiente para perceber se está mesmo fazendo uma compra necessária e dentro das suas condições de pagar.

Claro que cada pessoa pode ter seus critérios adicionais de compra (avaliando o produto também por sua eficiência energética, defesa do meio ambiente, tratamento ético das pessoas em sua cadeia produtiva, liberdade do conhecimento, etc.), e eles devem ser considerados em conjunto com estes, como complemento ou mesmo como preliminar, dependendo do caso.

Colocando o processo para funcionar

Adaptei o fluxograma abaixo a partir da obra da April; ele demonstra uma sequência comum de encadeamento dos 3 conceitos acima, na forma de um conjunto de critérios que pode permitir que você se responda:

  • Se deve comprar ou não o produto
  • Se concluir por não comprar, se deve ou não considerar a compra de um substituto
  • Vamos ao fluxograma (adaptado a partir do original da April Dykman, do blog de finanças pessoais Get Rich Slowly):

    O pessoal da área de TI que já trabalhou com fluxogramas de programas de computador provavelmente notará que ele foi desenhado ao arrepio de algumas das boas práticas desta arte, mas espero que tenha sido suficiente para garantir o entendimento ;-)

    Note que a questão inicial é se você está em condições de se comprometer a pagar - ou seja: se tem disponibilidades ou crédito acessível para realizar uma compra deste tipo. Os conceitos de "caro" e "barato" são relativos, mas mesmo nas compras "baratas" é necessário fazer esta pergunta, porque elas são perigosas: tendem a se avolumar sem que você perceba o tamanho do rasgo que farão no seu bolso. E se você não tiver disponibilidade e nem crédito acessíveis, nem adianta prosseguir com o processo decisório neste momento, pois a decisão final vai ser clara - quando a situação mudar, reavalie.

    Estabelecido que há condições de fazer um pagamento, chega a hora de avaliar a necessidade da compra. Preciso fazer esta aquisição? O conceito de necessidade, nessa hora, pode ser subjetivo ou até difuso, mas a resposta no que diz respeito ao momento corrente é objetiva: sim ou não. Vale fazer uma análise mais profunda antes de chegar ao sim, entretanto - pense nas razões que justificam a compra. Preciso só porque eu estou com vontade? Ou há alguma razão mais concreta? E se a resposta for negativa, o processo também se encerra por aqui.

    Mas se a conclusão for que vale a pena comprar, ainda temos um terceiro conjunto de filtros (apresentados em amarelo no fluxograma) que acabam sendo os que poderão lhe dar o tempo necessário para perceber que se trata de um impulso sem fundamento: é a pesquisa por compras alternativas, que pode se traduzir em buscar o mesmo produto vindo de outro fornecedor, procurar um similar ou mesmo um substituto, que pode se dar em 3 avaliações diferentes:

    • Existe uma alternativa mais barata?
    • Se sim, ela tem o mesmo nível de qualidade? (no sentido de "adequação ao uso")
    • Caso não tenha, a diferença de qualidade é importante para esta compra?

    As decisões a que este fluxograma simplificado conduz são simples: completar a compra, não comprar, ou considerar (com o mesmo fluxograma, é claro), a compra de um produto substituto. E a idéia do seu uso é bastante simples: provocar uma reflexão consciente antes de cada compra, forçando a análise de cada um dos pontos que o bom senso indicar para "validar" a compra, e que você notou que vem colocando de lado. Isso deve ser feito até que o hábito seja corrigido, e a reflexão se torne natural novamente.

    Claro que a análise acima é a minha, e pode diferir bastante da que foi publicada pela propositora inicial do fluxograma que originou esta nossa versão tropicalizada, que pode ser encontrada em "Should You Buy It? A Flowchart for Evaluating Potential Purchases".

    Conhecer um processo decisório não é substituto para sua atitude

    Mesmo que você ache muito interessante, imprima quatro cópias da imagem do fluxograma e cole uma na capa do bloco de cheques, a outra no cartão de crédito, a terceira no chaveiro e a outra na testa, não vai ter efeito se você não estiver realmente disposto a mudar os seus hábitos de consumo.

    E tornar mais racionais e eficientes os hábitos de consumo costuma ser bom, a não ser quando feito de forma compulsiva, quando é bastante possível que a partir de um certo momento o esforço adicional deixe de ser compensado pelos ganhos.

    Portanto, se você for adotar uma política pessoal de analisar previamente todas as decisões de compra baseando-se no fluxo acima, ou em algum similar que considere seus próprios critérios adicionais, cuidado para não exagerar - nem na intensidade, e nem na duração. Este é um exercício que deve ser mantido apenas até o hábito do consumo ser modificado da maneira que você preferir, e eventualmente revisitado quando necessário.

    E quando você perceber que seus impulsos não o estão mais levando a sistematicamente lamentar compras impensadas, que tal dar um passo além e redirecionar os recursos antes desperdiçados, passando a investi-los no seu futuro ou mesmo criar o seu Fundo de Reserva pessoal, para encarar a vida com mais opções?

    Outra alternativa interessante pode ser reservar uma pequena parte do que você deixar de gastar com compras impensadas para praticar alguns pequenos e silenciosos atos de compartilhamento com aquelas pessoas mencionadas lá no alto, cujo sonho seria ter, para suas despesas mais essenciais, uma pequena parcela do orçamento que você deixa de gastar com supérfluos quando passa a prestar mais atenção ;-)

Bike: faróis mais baratos para sua segurança, e um mini-compressor para encher os pneus

Sempre tive o hábito de encher os pneus da bicicleta no posto de gasolina da esquina de casa - é fácil, rápido, econômico (o posto oferece este serviço como cortesia aos clientes) e permite bem mais precisão do que as bombas manuais mais comuns, graças ao medidor que permite calibragem precisa, inflando os pneus até a pressão recomendada pelo fabricante, ou a mais adequada à atividade pretendida. O mais comum é eu colocar 36 libras (bem mais do que o usual em pneus de carro, por exemplo) para andar no asfalto, e o esforço necessário para colocar esta pressão usando uma bomba manual seria suficiente para reduzir o desejo de manter o pneu sempre cheio.


Uma bomba acionada com os pés, com manômetro para calibrar

Mas aí eu mudei de endereço, e subitamente não há mais um posto na esquina. Quando os pneus estão suficientemente cheios, ainda dá para ir pedalando com conforto até o posto mais próximo, mas se acontece de uma das bicicletas ficar algumas semanas sem uso, é preciso ir empurrando, ou levar de carro, ou recorrer à desmotivadora bomba manual.


Uma bomba de acionamento manual

Claro que há grande número de alternativas que reduzem este esforço - já experimentei ou possuí, anteriormente, bombas de acionamento com os pés e bombas manuais com variadas formas de acionamento que permitem maior aproveitamento do esforço muscular, enchendo os pneus mais rapidamente ou com alguma comodidada adicional. Mesmo assim, no meu caso, continua sendo um fator desmotivador: ando de bicicleta por uma série de motivos, mas todos eles acontecem ao ar livre e em movimento, e não esbaforido dentro de uma garagem fazendo outro exercício que não seja aquele que me propus a fazer.


Compressor 12V para encher pneus

Entra em cena o mini-compressor: há alguns meses encontrei uma solução que vem me atendendo muito melhor, e agora compartilho com vocês: um mini-compressor elétrico (12V), que já vem acompanhado de um manômetro para permitir calibragem relativamente precisa, e encheu rapidamente os pneus de todas as bikes nas quais eu o testei - inclusive uma cujos pneus estavam 100% vazios. A agulha do pequeno manômetro não inspira muuuuuuita confiança, mas serve para evitar que fiquemos muito abaixo ou muito acima da pressão habitual.


Um modelo "nacional", com lanterna acoplada

Comprei na loja de ferragens da esquina, mas é fácil encontrar modelos idênticos, com marcas diversas (o meu é identificado como "Western" - o da foto acima é da Schultz) em lojas de ferramentas e até no Mercado Livre, com preços que variam entre R$ 30 e R$ 60. Alguns são de fabricação bem... econômica (não tem nem mesmo chave liga/desliga), e aparentemente compartilham algumas características: são barulhentos, funcionam conectados diretamente ao isqueiro de um carro (cuidado para não ficar sem bateria), não têm opção de ligar numa tomada comum , mas há algo que eles fazem com competência: enchem os pneus da bicicleta (e consta que os de carros e motos também).

Vários modelos vêm com adaptadores para encher também bolas e outros infláveis (bóias, colchões, etc.), portanto há possibilidade de utilidades extras em uma viagem de camping ou à praia. O meu está funcionando há meses, poucos minutos de cada vez, e vai aguentando bem. E deve continuar na ativa, pois guardamos as bicicletas na garagem, e por aqui sempre há algum carro com a bateria bem carregada quando chega a hora de encher os pneus. Se os seus casos de uso forem parecidos com os meus, recomendo - caso contrário, siga com as bombas de acionamento muscular ou a passadinha no posto ;-)

Faróis para segurança do ciclista

Aproveitando que estamos no tema, vamos a mais uma medida barata que pode ser bastante efetiva - desta vez para a segurança dos ciclistas, especialmente os noturnos: instalar faróis e lanternas.


Dínamo: Antigamente todos os faróis de bicicleta captavam energia assim...

Na minha já nem tão próxima infância, faróis para bicicletas eram aparelhos com mais complexidade aparente, que envolviam dínamos que giravam em contato com a roda da frente, para produzir energia que alimentava uma luz nem sempre muito regular.


Modernos faróis LED importados, a pilhas

Mas hoje tudo mudou, e em qualquer boa loja de artigos esportivos você encontra variados modelos de faróis e lanternas, sendo que alguns dos faróis de fato conseguem iluminar bem, até alguns metros à frente, e as lanternas traseiras, vermelhas como o trânsito em geral espera, têm configurações variadas de oscilações e pisca-piscas, de modo a tornar o indefeso ciclista o mais visível possível, em condições noturnas, para os motoristas de automóveis que trafegam ao seu redor. Muitos deles são importados, com etiquetas de preço que chegam facilmente aos 3 dígitos - caro demais para muitos ciclistas, mas com tecnologia correspondente, que ilumina mais longe, faz a pilha durar mais tempo e ainda conta com um belo design.


Este farol ilumina de verdade, e tem autonomia de 90 horas, mas... custa até R$ 250 em lojas brasileiras.

Aliás, quanto à sinalização, o nosso Código de Trânsito é modesto e se satisfaz com refletores (estilo "olho de gato") para cumprir a sua determinação de que todas as bicicletas sejam comercializadas já com a "sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais" prescrita em seu Art. 106. E de fato os olhos de gato já são bem melhores do que nada, e aumentam a chance de que os motoristas enxerguem o ciclista a tempo de evitar situações de risco.

Mas quem já dirigiu à noite em estradas mal iluminadas sabe que uma pequena luz em movimento que possa ser percebida antes de estar ao alcance dos faróis do carro (que é a limitação básica dos refletores) chama muito mais a atenção do motorista, e isso é algo que os faróis e lanternas eletrônicos fazem muito bem, especialmente quando configurados para oscilar ou piscar rapidamente - o que os ajuda a se tornar mais eficazes até mesmo em ambientes com iluminação pública.


Um farol econômico Frog

Uma alternativa mais econômica: se você pedala à noite em ambientes urbanos, é bastante possível que você não precise de um caro farol de múltiplos LEDs para iluminar o seu caminho, mas poderia se beneficiar de lanternas dianteiras e traseiras para tornar-se mais visível aos motoristas. E é neste caso de uso que brilham as lanternas Frog, da empresa australiana Knog, que podem ser encontradas no Brasil por cerca de R$ 35 (no exterior encontrei da mesma marca por cerca de US$ 15 o par), e se não iluminam o seu caminho, têm uma virtude especial mesmo assim: são feitas para serem vistas a até 600m de distância.


Duas Frogs - traseira e dianteira - instaladas lado a lado

Configurada no modo piscante, elas têm autonomia de pilha (CR2032) prevista de 160 horas, e podem ser facilmente acionadas com um toque em sua superfície de silicone (que as tornam resistentes à água). Seu mecanismo de fixação é simples e permite prender a lanterna ao guidão, ao garfo, ao canote ou até mesmo ao capacete, dependendo do modelo dele. Se for deixar a bike estacionada em local inseguro, é fácil remover o Frog, também.

Eu pedalo na praia (e lá não há iluminação pública), então para mim estas soluções são insuficientes, e eu acabei optando por um farol com múltiplos LEDs, para ajudar a evitar buracos e obstáculos. Mas se você trafega usualmente por locais iluminados e gostaria de estar mais visível aos motoristas, considere a opção. Ou consulte antes alguma alternativa importada a preços mais baixos, se você gosta de importar diretamente e conhece bem os fatores envolvidos...

Churrasco: como inclui os amigos vegetarianos na festa

Em tempos de crescente ativismo pró-meio-ambiente, às vezes me surpreendo em não encontrar uma campanha mais visível contra esta instituição cultural secular: o churrasco. Pessoalmente, procuro reduzir o impacto que meus hábitos causam sobre o ambiente, e no caso do churrasco isso se traduz em atenção especial à certificação de origem da carne e do carvão empregados, por exemplo.

Mas os novos níveis de posicionamento ecológico geram mais um efeito sobre o churrasco nosso de cada dia: a probabilidade crescente de que algum dos convidados (ou agregados dos convidados) seja vegetariano, ou restrinja seu consumo de carne. Isso sempre ocorreu, e continuará a ocorrer, mas o aumento dos números destas facções faz com que aumente o interesse potencial em planejar inseri-los na festa (desde que o prato principal não lhes cause questões de ordem moral, ou de consciência).

Afinal, se a vegetariana ou o vegetariano em questão foram convidados para participar do evento, parto aqui do princípio de que eles são importantes para você (ou para alguém que é importante para você), e que a satisfação deles também é de seu interesse como anfitrião, mesmo considerando que o churrasco é um evento que tradicionalmente orbita ao redor do consumo de carne.

Churrasqueiros extremistas, finjam indignação

Aliás, o churrasco orbita em uma série de dogmas, mas são dogmas interessantes, porque variados: há quem diga que churrasco de verdade tem que ser com a carne em peça, mas há quem fatie. Uns dizem que precisa ser no espeto, mas outros preferem a grelha, e outros ainda fazem maravilhas usando uma chapa, ou mesmo aceitam envolver as peças em papel laminado.

E o tempero? A tradição sulista comanda pelo uso exclusivamente do sal grosso, mas o sal refinado acaba caindo bem em peças fatiadas, e mesmo no sul basta ir a alguma festa de igreja em colônias alemãs para comer um delicioso churrasco temperado com vinha d’alhos. Até a brasa do carvão, antes soberana, agora ganha concorrência de pedras aquecidas e até das churrasqueiras a gás nas varandas de quem não pode acender um braseiro de verdade no apartamento (mesmo que, se pudesse, acenderia um fogo de chão no meio do hall de entrada).

No caso dos churrasqueiros da escola tradicionalista (e que acreditam conhecer a única resposta válida para todas as questões acima), que não aceitam oferecer nenhuma alternativa à carne vermelha, sugiro que façam o de sempre: digam como acham que deve ser um churrasco de verdade, critiquem agora este artigo, veementemente como de costume, dizendo que é churrasco de gente fresca, tchê, e mais tarde, depois de descalçar a alpercata, retornem quando ninguém estiver olhando, para saber qual é a alternativa que vou propor ;-)

Categorias variadas

Tudo seria mais fácil de planejar se as pessoas que não consomem carne formassem um conjunto homogêneo, com regras gerais. Mas não é assim que funciona: há aqueles que não comem carne por razões de dieta (ou preocupação/restrição de ordem fisiológica), há os que não comem carne por variadas razões de consciência ou posicionamento moral, há aqueles que rejeitam apenas as carnes vermelhas mas se deleitarão com uma sobrecoxa ou mesmo uma linguiça de frango, há aqueles que aceitam um peixinho na brasa, e no extremo da balança há os que rejeitam consumir ou usar qualquer produto de origem animal.

As táticas para atender a cada um deles variam, desde que você investigue de antemão a preferência de cada um. A operacionalização, como em qualquer empreendimento, vai depender também dos recursos disponíveis: talvez você possa oferecer as opções variadas para cada um dos gostos (peixe, frango e vegetais), ou talvez seja necessário recorrer ao mínimo múltiplo comum: uma alternativa única que atenda a todos que não comem o prato principal.

Vai comendo esse pãozinho, essa saladinha verde...

Quando uma pessoa desses grupos chega a um churrasco sem avisar, corre o risco de ter que se sustentar com base no pão (com vento a favor, será pão com pasta de alho no espeto) e na saladinha com 2 tipos de alface, uma cenourinha ralada e um pepino em conserva que o anfitrião colocou no centro da mesa só pra decorar.

Se as condições estiverem especialmente favoráveis, vai haver também uma maionese de batata que vai estar de acordo com suas restrições (sem ovo cozido, por exemplo), e uma farofa feita sem cubinhos de nenhum tipo de carne.

Se for o seu dia de sorte, o churrasqueiro vai ter preparado espetinhos mistos (ou o que por aqui chamamos de "xixo"), com cubos de carne entremeados por pedaços generosos de cebola, tomate e pimentão - e aí de repente até dá para negociar uma solução intermediária.

Mas, de modo geral, o vegetariano corre sério risco de se sentir sobrando no aspecto gastronômico do evento: nenhum dos pratos principais o atenderá.

Buscando alternativas sem abrir mão do essencial

Churrasquear é, inegavelmente, uma atividade repleta de tradições, e o maestro do evento (aquele que esquenta a barriga na frente da churrasqueira e resfria no isopor de cerveja) geralmente vai resistir ao que seria a alternativa sonhada pelos vegetarianos: fazer como as churrascarias que, movidas pelo óbvio interesse de aumentar seu público-alvo, oferecem junto ao churrasco uma série de outros pratos principais: uma lasanha, um sushi...

Também sou partidário da idéia de que os pratos principais de um churrasco saem da churrasqueira, e o forno e o fogão servem apenas para acessórios e complementos, e neste sentido nunca me recusei a preparar um espeto a mais de aves ou peixes para atender a estas demandas especializadas. Mas quando havia interesse em atender a quem não come nenhum tipo de carne, eu ficava sem soluções que saíssem diretamente da churrasqueira.

E ao longo de muito tempo chegavam sugestões de experimentar como alternativa adicional as beringelas e as abobrinhas. Mas a idéia pouco me atraía, pois o modo como eu as via sendo preparadas em pouco lembrava a essência de um componente de churrasco: o vegetal era aberto e escavado, recheado, preparado em etapas, gratinado, e assim por diante - nada que seja cômodo de fazer enquanto se gerencia vários outros espetos e um copo gelado que insiste em ficar vazio periodicamente.

Até cheguei a experimentar a beringela como componente dos espetinhos do xixo, mas não agradou em nada: nem sabor, nem consistência, nem aparência.

Entra em cena a obra do acaso: filetando os legumes

Mas morar no Sul do Brasil é estar exposto permanentemente à força cultural do churrasco. Algum dia, nas primeiras horas insones de uma manhã de domingo, assisti sem querer a um gaúcho daqueles lá da fronteira com o Uruguai, de bombacha e lenço (só faltou a espora) apresentando em um programa de tradições gaúchas na TV local algo sobre como fazer quando há necessidade de recorrer a alguma dieta por ordens médicas mas o vivente quer continuar fazendo e curtindo seus churrascos com a família e com os amigos. Ele não chegou ao extremo de propor um churrasco sem carne, mas deu como alternativa a dica que me faltava sobre as abobrinhas e beringelas.


Uma beringela e meia

E a dica do gauchão velho era realmente simples: ao invés de salamaleques envolvendo abrir, escavar, rechear, gratinar, etc., ele deu uma de Colombo: colocou o legume em pé e o fatiou (no sentido do comprimento), formando pedaços cujas dimensões lembravam as de um filé de peito de frango.

E não é só nas dimensões que estes "bifes de legume" se aproximavam de um filé de frango: a forma de tratar é parecida. Se forem simplesmente colocados a seco sobre a brasa, vai ficar ressecado, esbranquiçado e com gosto de isopor fervido. Por isso você precisa espalhar os filés em uma tábua de corte, regar generosamente com azeite de oliva (para servir de veículo) dos dois lados, aí furar um dos lados com um garfo (sem exageros - 2 espetadas são suficientes) e colocar os temperos que mais lhe agradarem, em uma dose maior do que se você estivesse temperando uma carne para assar no forno, porque a carne absorve bem mais. O guasca velho fazia com pasta de alho, mas eu uso combinações variadas de sal, molho inglês, shoyo, molho de pimenta, pimenta preta moída, ou o que mais estiver sobrando em cima da bancada - ou de acordo com as convicções dos convidados. Uma alternativa é chamar algum deles para a tarefa de temperar, ou ao menos para escolher os temperos.

O detalhe que faz toda a diferença é o tempo: estes legumes não são campeões de velocidade em absorver o tempero, então é bom deixá-los repousar por algum tempo - eu uso o consumo de 2 ou 3 latinhas de cerveja como métrica. Depois é só ir colocando na grelha ou chapa, aos poucos, virando apenas uma vez. A beringela fica pronta rápido, e a abobrinha demora um pouco mais, mas não posso oferecer indicadores: vai depender da sua grelha, da temperatura do fogo, da altura da churrasqueira, entre outros fatores.

Cada um na sua

Claro que você sempre continuará a ter a alternativa de não convidar vegetarianos para o seu churrasco, ou de fazê-los se resignar a comer o pãozinho e a salada verde.


Abobrinhas italianas

Mas se você quiser experimentar fazer algo diferente, recomendo tentar alguma variação das instruções acima. Além de ser simpático e inclusivo, o resultado fica saboroso, e agora raramente passa um churrasco em que eu deixo de preparar este complemento (em pequena quantidade, afinal a estrela da festa é a carne), que geralmente faz sucesso até quando não há vegetarianos, e mesmo entre os fundamentalistas e céticos - mesmo que eles demorem a dar o braço a torcer.

E se você tiver esta intenção de agradar aos convidados que não comem carne, procure se lembrar de mais uma dica: não seja o anfitrião chato que fica o tempo todo tentando "convertê-lo" em carnívoro e criticando a sua opção. Afinal, o incômodo que o convidado sente quando tentam lhe convencer a deixar de lado sua preferência pelo vegetarianismo (ou movimentos similares) deve ser comparável ao que sentimos quando alguém vem nos patrulhar pelas nossos próprios hábitos alimentares e práticas ecológicas. E churrasco não deveria servir de pretexto para chatice!

Sorteio de ingresso: workshop "Cuide do seu dinheiro", em SP

O Ricardo Pereira, da equipe do vizinho blog Dinheirama (cujo conteúdo já apareceu por aqui anteriormente) mandou a dica:

Estamos promovendo no próximo dia 14/10 em São Paulo juntamente com o Consultor de Investimentos Leandro Martins o Workshop "Cuide do seu dinheiro e alcance a independência Financeira". O evento será no Hotel Golden Tulip Park Plaza, na Alameda Lorena, 360 Jardins. O início será às 19h com welcome coffee.

Que tal?

A turma do Dinheirama entende do que fala, então eu recomendo sem medo este evento a quem estiver em SP na semana que vem, inclusive por saber que o criador do site, Ricardo Navarro, faz parte da programação - e mesmo quem não conhece o blog mas tem interesse no assunto já pode ter ouvido falar dele pela repercussão positiva que teve o seu livro "Vamos Falar de Dinheiro?".

Os colegas de lá estão oferecendo um ingresso de cortesia a ser sorteado aos leitores do Efetividade, e dessa vez eu vou simplificar as coisas: quem vai estar em São Paulo na semana que vem e tem interesse em ir ao evento só precisa comentar aqui neste post, até o meio-dia de sexta-feira (9/10/2009) - mas não esqueça de preencher corretamente o campo de e-mail do comentário, senão não vai dar certo o contato. Na tarde de sexta eu sortearei, divulgarei o resultado aqui mesmo, e informarei os colegas do Dinheirama para que eles façam o que mais for necessário, ok?

Efetividade ao contrário: há quantos "acidentes esperando para acontecer" na sua vida?

Cada vez que acontece um acidente de maior porte com aeronaves, somos lembrados pela imprensa de que estas ocorrências são consequência de um conjunto de circunstâncias imprevistas (ou falhas, dependendo do caso) encadeadas, e que bastaria que uma delas não tivesse ocorrido para que o acidente fosse evitado.


Um acidente esperando para acontecer?

Como geralmente causam grande número de fatalidades, estes acidentes são mais visíveis na mídia - só que um acidente de menor porte e gravidade, mas que ocorre a alguém próximo, pode ser sentido de maneiras bem mais evidentes.

Um exemplo rasteiro (e real, e ainda não resolvido - pode ir lá na esquina da Av. Dourados com a Av. das Algas e verificar!) do encadeamento de causas que conduz a acidentes, funcionando de maneira oposta ao conceito de efetividade:

  1. a uns 150m da minha casa, em Florianópolis, há um cruzamento em forma de rótula em que andavam acontecendo colisões.
  2. a prefeitura foi chamada, e instalou 4 lombadas, uma em cada acesso à rótula, sempre a 2m da própria rótula - potencialmente tarde demais para evitar as colisões.
  3. as lombadas, bem altas, não foram pintadas nem sinalizadas, o que acabou mudando a natureza dos acidentes que aconteciam por ali, especialmente à noite, com carros perdendo pedaços, e colisões traseiras quando alguém percebia o obstáculo e freiava em cima da hora.
  4. a prefeitura foi chamada de novo, não pintou as lombadas, mas colocou placas de sinalização de lombada exatamente ao lado delas. Como as lombadas estavam a 2m da rótula, isso significa que as novas placas estão agora 50cm à frente das placas de "PARE" que indicam o cruzamento, impedindo completamente que elas sejam vistas pelo motorista.

Qual será o próximo passo? Aguardo os próximos capítulos...

Só que os acidentes do dia-a-dia, mesmo pequenos, nem sempre são causados por estupidez administrativa. Pessoas conscientes e plenamente capazes deixam de prevenir situações que escapam facilmente do controle (como as imagens do site ThereIFixedIt que ilustram este texto), envolvendo eletricidade, gás, alturas, veículos, construções e tantos outros elementos do nosso dia-a-dia. E elas podem ter graves consequências para nossas vidas, como percebe quem chega a estar próximo de um acidente sério.

A atitude de prevenção é simples, e no caso de nós, os amadores, pode se basear na assunção de que os acidentes estão à espreita, esperando pelas condições que permitem que eles ocorram. Partindo do exemplo positivo (mas mesmo assim imperfeito) do sistema aéreo, quero discorrer em seguida sobre o recente e trágico caso do cortador de grama de Araçatuba para, a partir das diferenças evidenciadas, lançar o questionamento sobre os acidentes em potencial que não estamos evitando.

Todas as salvaguardas e redundâncias podem ser insuficientes

Isso é assim porque todo o sistema aéreo é projetado com foco na segurança, com as redundâncias e salvaguardas necessárias para evitar o que pode ser previsto. Para exemplificar: num acidente recente em que a pista curta do aeroporto central de São Paulo foi vista como vilã, as causas investigadas incluíam o coeficiente de atrito da pista, a ausência de ranhuras ("grooving"), a chuva, erro da tribulação, erro do controle de vôo e... a pista curta.


Aproximação ao Aeroporto de St. Maarten, nas Antilhas

Algum dos fatores acaba sendo determinante, mas o acidente precisa dos demais também - senão ele não consegue acontecer. Às vezes o acidente acaba tendo entre suas causas também um comportamento intencionalmente inseguro (exemplo: piloto de jatinho fora da cobertura do controle aéreo desliga "transponder" e aumenta seu risco de colisão), ausência intencional de procedimento de segurança (exemplo: piloto que errou a rota não entra em contato com o solo - preocupado com sua carreira? - e acaba caindo sem combustível e longe de onde deveria estar), ou mesmo possível erro de projeto (reversor que abre durante a decolagem, pitot que produz leituras erradas de velocidade, ...)


Um acidente esperando para acontecer?

Mas para cada situação em que o acidente chega a acontecer, não temos idéia de quantos outros incidentes ocorreram e as salvaguardas funcionaram como deviam. Não apenas as situações em que o sistema secundário ou de redundância foi ativado automaticamente como deveria ser, mas também aquelas em que a falha em um ponto foi compensada pelas medidas tomadas em outro ponto. Por exemplo:

  • A pista é curta e escorregadia, a chuva apertou, mas o piloto arremete a tempo
  • O controle de tráfego autoriza 2 vôos a usar a mesma pista ao mesmo tempo, mas as tripulações percebem
  • Um avião voa fora da rota prevista, e o sistema anti-colisões do outro evita o choque
  • etc., etc.

Não-acidentes raramente são notícia, mas todos os dias há milhares de pessoas se dedicando a prevenir e evitar a ocorrência destes sinistros.

O cortador de grama de Araçatuba: adeus às salvaguardas

Discorrer sobre acontecimentos trágicos recentes sempre corre o risco de resvalar no mau gosto, mas o exemplo é tão claro e ilustrativo que seria difícil não mencionar pelo menos alguns de seus detalhes principais.

O G1 resume o desfecho:

Casal morre eletrocutado quando usava cortador de grama: Um casal morreu eletrocutado em Araçatuba, a 530 km de São Paulo, na noite de sexta-feira (2). M. V. S., de 38 anos, usava um cortador de grama quando ocorreu a descarga elétrica, que atingiu também a mulher dele, M. S. V. C., de 49 anos. (...) De acordo com a família, M. recebeu a descarga elétrica enquanto trabalhava com o aparelho. A mulher tentou ajudá-lo, mas também foi eletrocutada.

Acidentes e fatalidades envolvendo máquinas de cortar grama eram um acontecimento mais comum na minha infância, porque os cortadores ainda não eram produzidos com as salvaguardas de hoje, incluindo um bom sistema de isolamento elétrico. Só que o infeliz protagonista usava um modelo bem antigo (foto abaixo), cuja haste de controle era de metal condutor, sem nem mesmo manoplas isolantes.


O cortador com sua haste sem isolamento das mãos

Ilustrando a situação das salvaguardas, a notícia nos dá várias pistas dos outros fatores que contribuíram para a formação do acidente, e para o seu agravamento:

  • O isolamento normalmente não seria tão exigido (exceto como precaução importante), mas no dia do acidente a grama estava molhada, após uma chuva recente.
  • Em caso de choque elétrico, a providência mais urgente que uma testemunha pode tomar é desligar os disjuntores, cortando a corrente, mas a esposa aparentemente cedeu à reação instintiva e aproximou-se da vítima, sendo assim eletrocutada em conjunto.
  • Neste tipo de descarga, existe a possibilidade de os disjuntores desarmarem sozinhos - em grande parte, é para isto que eles estão lá. Mas o cortador de grama estava ligado diretamente na caixa de distribuição de energia, que em geral abriga, na chave geral, o disjuntor intencionalmente menos sensível de toda a instalação.

Não estou querendo encontrar culpados ou responsáveis pela situação, mas os pontos acima ilustram pelo menos 4 decisões que, se tivessem sido tomadas de outra forma, poderiam ter evitado o acidente, ou ao menos reduzido seu dano:

  • Não usar uma máquina fora das condições mínimas de segurança
  • Não usá-la em uma situação especialmente insegura (com o terreno molhado)
  • Afastar-se da vítima que está sendo eletrocutada, e desligar a corrente
  • Conectar a máquina a uma tomada apropriada, com proteção adequada de disjuntor.

Parando para pensar, lembro claramente de ter visto cortadores de grama antigos e tomadas externas, sem proteção e ligadas diretamente ao quadro geral, em muitas casas de praia e chácaras por onde passei. E embora eu sempre tome a precaução de instruir as pessoas ao redor sobre o que fazer em caso de acidente com eletricidade quando uso ferramentas elétricas (especialmente a furadeira, mesmo com seu isolamento duplo), consigo entender a reação instintiva que faz a esposa aproximar-se do marido que está sendo eletrocutado, ao invés de correr para o quadro de eletricidade.

Lidar com este tipo de situação, prevendo as circunstâncias inseguras, é uma das atitudes que contribuem para a segurança do lar, do trabalho, do trânsito e de todos os demais âmbitos em que atuamos.

"Isso só acontece com os outros"

O risco deste tipo de acidente é difícil de quantificar, e aí acaba prevalecendo a ilusão de que conosco não acontece, na nossa família jamais aconteceu, e nós sabemos lidar com estas condições, mesmo que para os outros elas sejam inseguras.


Um acidente esperando para acontecer?

Mas aí que está: mesmo que fosse verdade que você sabe lidar com uma condição que para os outros é insegura, a verdade é que mesmo para os outros ela sozinha provavelmente não provocaria o acidente. O acidente ocorre quando ela se junta a outras condições, incluindo imperícia, erro humano, condições climáticas adversas e muitos outros exemplos - e eles também podem acontecer com você...

Da mangueira do fogão ao freio do carro: um inventário dos acidentes potenciais da sua casa ou empresa

Assim, uma forma de reduzir o risco geral de acidentes é procurar antecipadamente as causas potenciais deles, e aí agir adequadamente para removê-las.


Um acidente esperando para acontecer?

Alguns exemplos de questões que podem levar a verificações importantes:

  • Há quanto tempo você não revisa a mangueira de gás atrás do seu fogão? Ela não está encostada no fundo do forno?
  • Tem feito revisão periódica dos pneus, luzes e freios do seu carro?
  • Há móveis ou objetos que permitem que crianças pequenas cheguem às janelas?
  • Os remédios estão fora do alcance de crianças e animais domésticos?
  • As instalações elétricas e hidráulicas estão em dia? Nada de choques no chuveiro, nem disjuntores desarmando por sobrecarga?
  • Alguém se debruça para fora do parapeito para lavar vidraças? Alguém faz pequenos reparos de eletricidade sem desligar os disjuntores?
  • Não há obstáculos que favoreçam tropeçoes ou escorregões nos caminhos mais comuns?
  • Aparelhos e ferramentas fora de condições de segurança são consertados (ou reciclados)? Ou você vai deixando para a próxima vez, porque acha que agora ainda dá para usar?
  • Locais de perigo potencial elevado, como piscinas, estão adequadamente protegidos?
  • Escadarias, porões e sótãos estão bem iluminados?

Claro que se trata apenas de uma pequena lista de exemplos, para demonstrar a atitude necessária à prevenção permanente dos acidentes. Se você quiser uma referência mais detalhada, o Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas tem uma lista mais completa de causas de acidente e suas soluções.

Prevenir é mais econômico e efetivo do que corrigir (e lamentar) - colocar telas de proteção nas janelas da minha casa não foi barato, mas a tranquilidade que elas geram não tem preço, e a perda que a ausência delas podia ajudar a causar seria irreparável.

O exemplo trágico do cortador de gramas foi escolhido por ser recente e ilustrativo, mas todos os dias acontece uma infinidade de acidentes que teriam sido facilmente evitáveis: crianças caem de janelas, vazamentos de gás explodem, instalações elétricas inseguras eletrocutam, escadas mal-iluminadas fraturam, pneus carecas causam derrapagens, etc.

Pensar que só acontece com os outros é uma ilusão. Mas para diminuir as chances de acontecer com você, prevenir é o melhor caminho!

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