A solução de produtividade que você procura não será trazida por alguma ferramenta

Abandonei mais uma vez o Evernote em prol de uma tecnologia bem mais antiga, e aproveito para compartilhar uma ou duas reflexões sobre a importância de saber escolher suas ferramentas.

Toda semana recebo contatos de leitores perguntando sobre quais ferramentas deveriam usar para ter produtividade, ou efetividade, ou algum outro resultado positivo em sua vida.

E muitas vezes o contexto da pergunta me revela que a pessoa tem a expectativa de que a ferramenta seja a solução para os problemas hoje existentes na atitude dela, ou nos processos que ela coloca em prática. Mas infelizmente esse tipo de situação em que a adoção de uma ferramenta pode corrigir processos e fazer evoluir atitudes, mudando hábitos, é bem raro.

A ferramenta é, sim, muito importante – mas ela não pode fazer todo o trabalho por você, apenas ser usada para ampliar a sua capacidade de realizar trabalho.

É lugar-comum, já escrevi antes, mas vou repetir: o bom artífice não culpa más ferramentas pelas suas falhas, sabe usar bem as ferramentas sofisticadas, mas o momento em que melhor produz é quando tem as ferramentas que se adequam à sua maneira de trabalhar.

Esta minha breve reflexão nasce porque acabo de abandonar o Evernote mais uma vez. Deve ser a 3ª ou 4ª.

Abandonei o Evernote de novo, mas ele é ótimo.

O meu abandono não quer dizer que o Evernote seja uma má ferramenta. Pelo contrário: tem um leque crescente de recursos úteis, qualidade permanente, um ecossistema em evolução, uma comunidade vibrante (inclusive no Brasil), e eu nem me arrependi de ter pago (e renovado) uma conta Premium.

O Evernote não é o problema. O meu “problema” (que na verdade é solução) é que tudo que eu faria nele eu faço desde o século XX em um arquivo-texto chamado notas-augusto.txt, que nasceu em um computador com Windows 98, logo depois migrou para uma sucessão de computadores com Linux, e hoje reside na pasta do Dropbox em um Mac.

Como hoje ele "mora" no Dropbox, está acessível tanto no smartphone quanto no tablet ou em qualquer computador com conectividade. Quando preciso anexar algo, gravo na mesma pasta e simplesmente anoto o nome (ou a URL) no mesmo arquivo.

Nele estão os números de acompanhamento de um Sedex que enviei na semana passada (e o link para uma foto do recibo), mas também estão até registros de vôos que peguei na década de 1990, os detalhes de configuração de um monitor ~tela plana~ que tive alguma dificuldade para configurar na virada do século (imagem acima), as instruções de publicação para uma revista com que colaborei em 1999, alguns números de telefone com 6 dígitos, e o número do contrato de provedor de linha discada...

Ao longo dos anos, criei algumas rotinas automatizadas para incluir rapidamente um trecho de texto ao final do arquivo, e uma prática para incluir palavras-chave que tornam fácil localizar a informação, e até mesmo correlacioná-la.

Não estou dizendo que isso é melhor que o Evernote, ou que você deveria fazer o mesmo. O Evernote é bem mais avançado. Só que para mim as vantagens de ter essas informações localmente1 no meu desktop ao alcance de um grep (que faz bem menos do que o Evernote), como já venho fazendo há 20 anos, continuam suplantando tudo que o Evernote já me ofereceu.

Já tentei 3 ou 4 vezes. Já migrei todas as informações do meu arquivo texto para o Evernote mais de uma vez. Já contratei o Evernote Premium. Já me obriguei a usá-lo por 3 meses. E sempre voltei ao bom e velho TXT.

Chegando ao assunto: produtividade está mais no processo do que na ferramenta

Meu ponto? Estou sempre em busca da produtividade e da efetividade, e gosto de estudar as ferramentas associadas a ela. E uma coisa que aprendi é que a ferramenta precisa se adequar ao usuário, e não o contrário. Outra é que o tempo que gastamos testando ferramentas variadas nem sempre compensa, a não ser que o teste em si seja parte do objetivo – algo que se faça por prazer, por exemplo.

Para meus registros e referências eu uso uma combinação de ferramentas com recursos restritos e isso me atende bem, mesmo sabendo que existe uma bem mais avançada à minha disposição.

E queria compartilhar isso com vocês, porque a cada vez que alguém vem me pedir dicas de ferramentas como se o ganho de produtividade residisse nelas, eu tenho vontade de fazer esse mesmo discurso.

Os ganhos de produtividade, de eficácia, de qualidade de vida e de diferenciais estratégicos estão na atitude, e no processo. A ferramenta precisa apenas ser adequada a estes. Ainda que ela seja um pedaço de papel. Ou um arquivo-texto.

Mas... nada contra o Evernote 😃

 
  1.  E sincronizadas em qualquer computador em que eu trabalhe, mesmo que ele tenha o formato de um celular.

Comentar

Comentários arquivados

Artigos recentes: