Eu gosto de aprender, muito mais do que gosto de estudar – mas estudar é geralmente um requisito, então o melhor é saber maximizar o retorno desse esforço.
Eu estudo porque quero aprender. Não me importo muito com as notas, desde que sejam suficientes para a aprovação; mas, se eu aprender, sempre confio que minhas notas refletirão isso, sem um esforço adicional para "tirar nota alta" – embora elas costumeiramente compareçam ;-)
As técnicas de estudo que eu usei no ensino médio e na faculdade continuam sendo as que eu uso agora nas especializações, mas elas foram sendo refinadas porque os tempos mudaram: agora estudar próximo ao computador traz vantagens que nos anos 90 não existiam ainda, por exemplo. E fazer trabalhos em grupo depois da existência do WhatsApp como fenômeno de popularidade também mudou várias regras do jogo.
Vamos, portanto, revisitar as dicas do Efetividade para estudar melhor, atualizando-as para a segunda metade da década de 10 ;-)
Saiba a razão de estar estudando. Para motivar o esforço do estudo, é importante ter clareza do que se pretende alcançar com ele. Eu estudo para aprender, outras pessoas estudam para conseguir nota para aprovação ou mesmo para conseguir uma nota melhor que a de outros participantes de algum certame. Ter clareza disso ajuda a vencer a tentação de deixar para amanhã ou desistir de algum tópico mais chato.
Escolha e adeque seu ambiente. Se você vai estudar fazendo uso de um computador ou de um smartphone, ao menos desative os programas de mensagens e as redes sociais. Não estude em um local que sua mente associa ao lazer ou ao descanso (as associações que o cérebro faz podem ser muito úteis ao estudo, mas neste caso são um inimigo perigoso), nem em um local desconfortável, barulhento ou mal iluminado. Estude com música, se desejar: se a música não lhe distrair, ela pode ativar mecanismos de memorização positivos, do tipo "essa eu lembro, quando vi esse capítulo estava tocando uma música do Nirvana".
Estudar é mais do que ler. Leia o material sim, tantas vezes quantas forem necessárias para um entendimento abrangente e com a profundidade desejada. Mas não pare na leitura: resolva exercícios com consulta, depois sem consulta, identifique e corrija seus erros, e produza (sem consulta) uma lista estruturada dos títulos dos principais tópicos do material, para ter certeza de que consegue lembrar deles mesmo sem contar com alguma pista que venha a (não) ser dada pelo texto da prova.
Não memorize, entenda. Para algumas coisas, como os nomes dos afluentes do Rio Amazonas, não há alternativa além da memorização. Mas a maior parte do conhecimento relevante pode ser compreendido, e não apenas memorizado. A grande vantagem da compreensão, em relação à memorização, é que geralmente o conteúdo pode ser lembrado sem grande esforço na hora em que for demandado.
Faça bom uso das pausas. O melhor é estudar um pouco a cada dia, sempre no mesmo horário. Não sendo viável, e sendo necessário estudar por algumas horas a fio, use um timer ou despertador para coordenar um esquema de pausas de 10 minutos, a intervalos fixos que sejam adequados à sua capacidade de absorver conteúdo. Na pausa, ofereça a si mesmo uma recompensa: uma olhadinha no chat ou no Facebook, uma partida de jogo, um bom café, etc. Recomece o estudo pontualmente, com suas capacidades de memorização e compreensão renovadas.
Saiba quando parar. Eu tenho uma métrica para identificar o ponto de parar: quando já me sinto apto a preparar um plano de aula sobre o assunto que estou estudando, mencionando em uma página A4 manuscrita todos os tópicos, seus conceitos-chave e definições básicas. Às vezes preciso parar de estudar antes (por acabar o tempo ou a energia), mas acho desperdício continuar a estudar depois deste ponto, a não ser que a meta seja competitiva.
Busque imagens vívidas para associar os conceitos entre si, ou em relação a experiências da sua vida, e você conseguirá lembrar deles a partir das imagens.
Ensine para aprender mais. Uma boa consequência da dica acima é que você pode compartilhar seu plano de aula (ou resumão, mas escrito sem consulta ao material) com outros colegas, ou mesmo ensinar a algum deles os conceitos que ele não entendeu. Além do karma positivo, a atividade contribui para a sua própria fixação, e para mantê-lo fiel ao nível de qualidade exigido no resumão.
Aproveite que seu cérebro é uma máquina de associar. Procure sempre encontrar padrões e pontos em comum entre os tópicos do seu estudo, e associe-os (diretamente entre si, ou então com aspectos da sua realidade pessoal) a imagens claras e vívidas. Se você fizer estes relacionamentos, fica mais fácil relembrar cada um dos tópicos, pois na hora de usar a informação você pode seguir a cadeia de ligações, como no exemplo acima, em que um conceito foi associado à música que estava tocando no momento em que foi estudado.
Aprender é algo que acontece dentro da sua cabeça, e não nas folhas do caderno.
Escreva menos palavras e mais conteúdo. O importante não é quantas páginas você escreve, mas sim o quanto estas anotações conseguirão ajudá-lo na hora de rever ou estudar o conteúdo. Gravar ou transcrever a aula inteira pode ter alguma utilidade, mas com certeza não ajuda tanto quanto entendê-la e resumi-la em um bilhete. Dizer muito em poucas palavras é uma habilidade valiosa para toda a vida.
Experimente tomar notas à mão. Escrita não é sinônimo de edição de texto. Por mais que notebooks ou tablets sejam cada vez mais comuns na sala de aulas, tenha um bloco ou caderno para anotações livres, acostume-se a anotar nele os conceitos interessantes, e coloque data, título e matéria no topo de cada página. Não arranque páginas deste caderno. A escrita manual, e simultânea ao momento em que você adquiriu o conhecimento, pode ser um poderoso estímulo à memorização imediata e definitiva dos conceitos. Dica extra: o método Cornell de anotações adapta-se a qualquer caderno, e facilita a consulta posterior.
Não confunda material e aprendizado. Continuidade da dica acima. Aprender é algo que acontece dentro da sua cabeça, e não nas folhas do caderno; rabisque, rasure, faça o que for necessário para entender e registrar os conceitos. Não adianta ter 16 canetas diferentes e o caderno mais completo da turma, se você não entender o que está escrito, ou se apenas copiar algo que não compreendeu.
Uma exceção: se você já fez tudo errado e só tem meia hora para estudar para uma prova na qual deseja tirar nota suficiente, pode pular todas as dicas acima (cujo foco é o aprendizado) e ler as Dicas para estudar em emergências escolares.